Neste início de 2022, acompanhamos apreensivos o aumento de casos da variante Ômicron em todo o mundo. Mas quando a quantidade de casos estava diminuindo e ainda não existiam vacinas disponíveis, ainda na primeira onda de covid-19 no Brasil, contraí a doença aqui na cidade de Foz do Iguaçu. Fiquei 16 dias internado no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, metade desse tempo intubado em um leito de UTI. Felizmente, hoje posso contar essa história com desdobramentos positivos e prestar uma justa homenagem aos profissionais de saúde que, direta ou indiretamente, salvaram minha vida e me ajudaram a ter recuperação total.

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Naquela época, pessoas próximas começaram a apresentar os sintomas característicos da doença e dispararam o alarme para a possibilidade disso também acontecer comigo. Logo busquei acompanhamento médico, mas não houve jeito e, em dezembro de 2020, vieram a tosse seca, a perda de paladar e olfato e o teste positivo para o SARS-CoV-2. Mal sabia que um perigo maior se aproximava, pois a baixa na imunidade provocada pelo vírus faria com que uma pneumonia bacteriana oportunista também se instalasse, tornando persistente a febre e o mal estar.

Amaury e os profissionais da saúde do HMCC

Um ano depois, Amaury Pontieri reencontra o enfermeiro Marcelo da Silva e Dr. German Pignolo.

Rapidamente meu quadro geral piorou e, quando veio a baixa na oxigenação sanguínea indicada pelo oxímetro digital, voei para o hospital. Imediatamente fui internado, pois já estava com comprometimento de 70% dos pulmões. Sedado, intubado e pronado, ali começaria o episódio mais crítico que já enfrentei, pois corria risco real de morrer. Curiosamente, o mesmo episódio geraria inúmeras consequências positivas para mim.

A principal delas foi ver em ação uma equipe de saúde multidisciplinar de alto nível, experiente e atualizada com as técnicas de tratamento mais efetivas para aquela situação. Além disso, se mostraram seres humanos incríveis, não poupando esforços e, às vezes, colocando a própria saúde em segundo plano para cuidar do crescente contingente de pessoas que adoeciam – e que nem havia ainda atingido o pico a que chegaria alguns meses depois.

Amaury na UTI
Momento agoniante de Amaury na UTI.

Em conversa com um enfermeiro durante a internação, perguntei como poderia expressar minha gratidão por ele e por toda a equipe que cuidou de minha saúde. A resposta foi: “você é professor de redação e jornalista, escreva o que viu aqui”. Prometi que assim faria e aqui está o resultado, embora não haja palavras suficientes para expressar meu sentimento de gratidão. Considero todos que cuidaram de mim naquela ocasião heróis da vida real pois, em alguns dias da internação, conheci vários homens e mulheres com sérios problemas pessoais – e até mesmo doentes – fazendo o possível e o impossível para recuperar plenamente todos que ali estavam com a vida por um fio.

Devido ao meu estado, não seria possível me lembrar de todos os médicos, enfermeiros, biomédicos, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais administrativos cujas contribuições asseguraram minha sobrevivência sem sequelas. Posso, no entanto, reconhecer o trabalho de toda a equipe médica que salvou minha vida por meio de um agradecimento nominal ao médico que liderou a equipe de intensivistas, Dr. German Andres Pignolo, e outro ao enfermeiro Marcelo Benedito da Silva, que aqui representará toda a equipe de enfermagem (a lista é extensa: o Pablo, a Lu, o Augusto, o Lucas e muitos outros que foram incansáveis em momentos difíceis). Por seu trabalho impecável e pela extrapolação de seus deveres, muitas vezes com claro sacrifício pessoal, fazendo de tudo para que seus pacientes tenham a melhor condição psicológica em um momento tão crítico de suas vidas, deixo registrado aqui o meu agradecimento profundo. O amor e a dedicação com que trabalham é um exemplo para todos nós.

(*) Amaury Pontieri é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Gestão Empresarial pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM – SP). Foi diretor editorial da NBO Editora (SP) e atuou como editor sênior na HSM Educação Executiva antes de se tornar um dos fundadores do Colégio Bertoni, de Foz do Iguaçu (PR). Atualmente é conselheiro do grupo educacional Bertoni e presidente da Sociedad Educativa Bertoni S.A., de Ciudad del Este, Paraguai.

Vivências transcendentes

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Uma das perguntas mais comuns a quem passa por uma Experiência de Quase-Morte (EQM) é: “o que você viu ou experimentou?” e dessa vez não foi diferente. Muitas pessoas têm manifestado curiosidade sobre o que acontece em nosso íntimo nas cercanias da morte e até Platão abordou isso no livro X de sua obra A República, em que conta o caso de Er, o armênio. Mas o assunto nunca sai de moda desde a Antiguidade e já recebi convites para falar sobre isso em podcasts, programas de TV, de rádio e lives. Uma particularidade interessante e que me ajudou na experiência em si foi o fato de, por muitos anos, ter estudado esse assunto por meio de livros, artigos científicos, filmes e mesmo ter ajudado a organizar um evento em São Paulo chamado Fórum Internacional de EQM, voltado a profissionais e pesquisadores das áreas de medicina, psicologia, universitários e interessados em geral. Um dos palestrantes, na ocasião, foi o psiquiatra Peter Fenwick, PhD, pesquisador do London Psychiatry Institute, também autor do livro The Art of Dying. Naquele fórum, o Dr. Fenwick apresentou sua pesquisa com 400 casos de EQM e revelou que 82% dos pacientes que entrevistou manifestaram reações emocionais positivas; 72% relataram ter presenciado luz ou seres de luz; e 12%, uma revisão da vida ou algum tipo de visão panorâmica, entre diversos outros fenômenos. Citei esses três porque foram exatamente os que marcaram minha experiência, entre eles, uma sequência de imagens bastante simbólica em que observei e participei de muitas cenas ultra rápidas e detalhadas envolvendo a situação de morte/renascimento. A quietude de muitos soldados mortos após uma batalha que selava o fim de uma guerra; alguém observando uma múmia sendo preparada e colocada em um sarcófago; a carcaça de um enorme mamute que, após alimentar muitos humanos primitivos e animais, ainda fornecia energia para uma grande quantidade de microrganismos decompositores. Enfim, a morte de alguns seres possibilitando novos caminhos para a vida, configurando um ciclo interminável. Aquilo foi cessando toda a perturbação psicológica indefinida em que me encontrava e uma sensação de indescritível paz e tranquilidade íntima me dominou. Percebi que nada havia a temer, que a morte era uma velha conhecida e que deveria parar de me debater. Aquele sentimento me fez sentir como se estivesse em um balé coordenado com galáxias, nebulosas e estrelas em um espaço sem fim. Começava então uma lenta e suave descida que me levaria a abrir os olhos numa UTI, oito dias depois de ser intubado. Momentos difíceis ainda estavam à frente, mas eu estava bem amparado. Outros detalhes das experiências quase-morte, bem como dicas de livros, filmes e seriados podem ser assistidos na gravação desta live.

Dr. Peter Fenwick.

Dr. Peter Fenwick. 
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Amaury Pontieri é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Gestão Empresarial pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM – SP). Foi diretor editorial da NBO Editora (SP) e atuou como editor sênior na HSM Educação Executiva antes de se tornar um dos fundadores do Colégio Bertoni, de Foz do Iguaçu (PR). Atualmente é conselheiro do grupo educacional Bertoni e presidente da Sociedad Educativa Bertoni S.A., de Ciudad del Este, Paraguai.

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