Recebemos na redação do Grupo 100fronteiras, a professora e pesquisadora Diana Araujo Pereira, que foi nomeada como a nova reitora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Diana irá cumprir um mandato de quatro anos à frente da universidade. Durante a visita, ela nos contou um pouco sobre sua trajetória e quais são os planos para os próximos 4 anos.

Quem é a Diana? É natural de onde? Qual a formação e trajetória até chegar em Foz do Iguaçu e UNILA?

Sou carioca, natural do Rio de Janeiro, mas estou na Unila desde 2010. Hoje em dia, me sinto mais fronteiriça do que carioca. Minha formação acadêmica se deu inicialmente no bacharelado em Português e Espanhol. Após isso, realizei meu mestrado e doutorado em Línguas e Literaturas Hispânicas, focando na literatura latino-americana. Além disso, concluí um estágio pós-doutoral na UFRJ no Rio de Janeiro. Em 2010, terminei meu estágio pós-doutoral e fui para a Unila, aprovada em concurso público.

Embora minha carreira tenha se diversificado, me considero, acima de tudo, professora. Na Unila, pude explorar outros aspectos da minha carreira como a gestão. Isso me levou à reitoria, onde estou atualmente. Quando me mudei para cá, a Unila ainda não existia – eu apenas possuía um forte desejo de deixar o Rio de Janeiro. Originalmente, pensei em ir para o Nordeste, porque gosto muito de lá, mas quando soube do projeto diferenciado da Unila – com sua proposta de integração latino-americana e a presença de estudantes estrangeiros – não tive dúvida de que eu deveria vir para cá.

A Unila é um lugar desafiador. Todos os dias, somos confrontados com novas perspectivas, pessoas de diferentes culturas e formações acadêmicas variadas. Isso, sem dúvida, é um desafio, mas um desafio extremamente gratificante. A pessoa que sou hoje, não seria a mesma se estivesse em qualquer outra universidade federal do Brasil. Tenho certeza disso porque a Unila é como um laboratório onde sempre temos novidades e oportunidades para crescimento pessoal e profissional.

Diana Araujo Pereira nova reitora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Diana Araujo Pereira nova reitora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).

Como você acredita que sua experiência anterior contribui para liderar uma universidade com essas características únicas?

Eu venho de um histórico de ensino em universidades privadas e escolas no Rio de Janeiro. Essas experiências, embora distintas, me ajudaram a me sentir mais à vontade na sala de aula da UNILA, apesar de seu ambiente ser significativamente diferente de qualquer outro que eu tenha conhecido.

Mas o que mais me auxilia na minha experiência na UNILA são as minhas viagens e pesquisas prévias. Realizei meu mestrado focando no Peru, mais especificamente sobre um poeta peruano que reescreve a história do país. Ao longo dessa jornada, construí uma forte relação com o Peru e a Bolívia, viajando várias vezes para esses países. Acredito que essas experiências ampliaram minha compreensão sobre a diversidade e me ensinaram que lidar com as diferenças é algo positivo. Esse choque cultural, que experimentei muito antes de chegar à UNILA, acredito que me forneceu uma base importante para hoje vivenciar de maneira tranquila esse universo multicultural que é a universidade.

Assumir o cargo de Reitora certamente traz seus desafios. Quais foram os principais obstáculos que você encontrou até agora e como tem lidado com eles?

Os desafios vão ser constantes, e a minha proposta é enfrentá-los coletivamente. Sabemos que tudo está estruturado de maneira que uma mulher sozinha tenha dificuldades para lidar. Então, a maneira de superar isso é trabalhando em grupo, de forma coletiva, socializando as questões e democratizando as decisões.

Acredito que desta forma conseguimos nos sustentar, pois precisaremos ser muitas mulheres nos apoiando mutuamente – e, claro, os homens também. Contudo, é importante ressaltar que para eles, essa dinâmica já é mais familiar, enquanto para nós, mulheres, é um território menos conhecido. Nunca me imaginei no cargo de reitora, então agora precisaremos aprender a lidar com isso, compondo um grupo amplo e sempre nos fortalecendo mutuamente. Esta será a chave para a superação dos desafios que certamente virão.

Ser a primeira mulher a ocupar o cargo de Reitora da UNILA é um marco importante. Como você espera que essa conquista inspire outras mulheres a buscar posições de liderança no meio acadêmico?

Acredito que só o fato de eu ocupar este cargo já traça um caminho para outras mulheres seguirem. Sem dúvida, precisamos de referências; precisamos saber que podemos chegar lá porque alguém já o fez. Nesse sentido, o simples fato de eu estar nessa posição já serve de exemplo e abre caminhos, tornando-me uma referência. Espero sinceramente que isso inspire muitas meninas e mulheres a seguirem seus caminhos e não terem medo de desenvolver suas potencialidades.

Os limites estão na nossa mente, mas também existem no mundo real. Temos que entender que os limites e desafios estarão sempre presentes, mas isso não significa que devemos ficar parados. Ao contrário, aprendemos a lidar com eles, a superá-los e a seguir adiante, abrindo caminhos e criando novas possibilidades para nós mesmas e para as gerações futuras.

À medida que assumiu a reitoria, quais mudanças você gostaria de implementar ou priorizar para melhorar a experiência dos estudantes na UNILA?

A UNILA, apesar de sua jovialidade – estamos falando de 13 anos de existência – já tem muitas conquistas. Já construímos um caminho, temos uma história e uma estrutura com muitos elementos positivos. Nosso objetivo é fortalecer o que já construímos de bom e, ao mesmo tempo, mudar aquilo que ainda precisa de melhorias.

Como professores, sabemos que a avaliação é parte do processo de crescimento e amadurecimento. Este é um momento crucial para avaliar o que fizemos até agora, o que precisamos fortalecer e o que necessita ser alterado para que continuemos crescendo e nos expandindo.

A UNILA possui uma missão ousada e, para cumprir essa missão com sucesso, precisamos implementar mudanças. Essas alterações serão feitas de acordo com nossas necessidades, sempre com o intuito de continuar avançando e consolidando a missão da instituição.

Para os estudantes que estão considerando ingressar na UNILA, que mensagem você gostaria de transmitir sobre a experiência única que eles podem ter aqui?

Venham para a UNILA, pois aqui vocês vão aprender muito mais do que uma profissão. Aqui, vocês aprenderão a conviver com a diversidade que define o nosso mundo no século 21. Um mundo que é cada vez mais móvel, dinâmico e rápido. Se você procura um lugar onde possa se tornar um cidadão ativo, crítico e criativo neste século 21, venha para a UNILA. Aqui, você será desafiado a lidar com esses aspectos todos os dias.

Como você visualiza o futuro da UNILA sob sua liderança e qual legado você espera deixar para a universidade?

O primeiro desafio é consolidar nossos 29 cursos e fortalecer nosso programa de pós-graduação, ampliando a oferta de mestrados e doutorados. Queremos também ampliar nossa capacidade de pesquisa e, assim, consolidar a UNILA em suas atividades principais: ensino, pesquisa e extensão. Além disso, queremos construir um bom ambiente de trabalho para nossos colegas docentes, servidores técnicos e estudantes. Se conseguirmos criar um ambiente de trabalho amigável, colaborativo e cooperativo, conseguiremos atrair pessoas de todos os lugares, inclusive indivíduos altamente qualificados – sejam estudantes, técnicos ou docentes. Portanto, esses são os grandes desafios para o futuro da UNILA.

O que a Diana gosta de fazer nas horas vagas? O que mais gosta da Tríplice Fronteira? Quais lugares costuma visitar?

Bem, sou bastante caseira, então talvez minha resposta não chame muito atenção. Minhas atividades preferidas são bastante simples. Adoro ir até Ciudad del Este para comprar chipa no mercado e assar em casa, aproveitando-a ainda fresquinha. Também gosto de visitar a Argentina, principalmente para comprar vinhos e apreciar a gastronomia local. Em Foz, sou fã da feirinha de domingo que acontece na Praça JK, além de outras atividades na Praça da Bíblia. Sinto falta desses espaços públicos em Foz, onde podemos desfrutar de uma convivência popular nas praças.