Nesta quarta-feira, 16 de agosto, o Paraguay celebra o “Día del Niño” (Dia das Crianças) em memória das jovens vítimas da batalha de Acosta Ñu durante a Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870). Este dia homenageia as crianças que bravamente defenderam seu país em uma batalha desigual e cruel.

Diferentemente do Dia das Crianças celebrado no Brasil em 12 de outubro, que exalta o amor e a inocência dos jovens, no Paraguay a data carrega um peso histórico.

Embora alguns detalhes do conflito tenham sido posteriormente questionados, ele é considerado o mais sangrento da história da América Latina. No Brasil, esse episódio é conhecido como a Batalha de Campo Grande.

Como foi a batalha Acosta Ñu?

De 1865 a 1870, o Paraguay esteve em combate contra os exércitos do Brasil, Argentina e Uruguai. A batalha de Acosta Ñu ocorreu em 16 de agosto de 1869 e teve como protagonistas, do lado paraguayo, crianças e adolescentes.

Muitas dessas crianças tinham entre 10 e 12 anos, mas, conforme relatos históricos, algumas eram ainda mais jovens, com 6 ou 7 anos. A magnitude desse evento fez com que a data se transformasse no Dia das Crianças paraguayo.

Com o Exército paraguayo praticamente exterminado, explica o historiador paraguayo Fabián Chamorro à BBC News Mundo, figuras importantes dentro das forças aliadas sinalizaram que a guerra teria terminado e que seria o momento de deixar o país. Conforme Chiavenato, uma dessas figuras era o general Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias, que liderava as tropas brasileiras no Paraguay.

“Quanto tempo, quantos homens, quantas vidas e de quantos recursos necessitaremos para terminar a guerra, quer dizer, para transformar em fumaça e pó toda a população paraguaya, para matar até os fetos no ventre das mulheres?” argumentou com o imperador Dom Pedro 2º.

Mas a ordem era de que a guerra só chegaria ao fim com a morte do presidente do Paraguay, o marechal Francisco Solano López, o que só aconteceria em 1º de março de 1870. “Não tinha necessidade de fazer toda essa caçada, em que a população civil foi a principal prejudicada”, ressalta Chamorro. Enquanto lutava pela própria sobrevivência, Solano López recrutava soldados cada vez mais jovens. “Primeiro eles tinham 16 anos, depois 14, 13 anos”, relata Barbara Potthast, professora de História Ibérica e Latinoamericana na Universidade de Colônia, na Alemanha.

Dia das crianças no Paraguai: conheça a história por trás da data
Foto: GETTY IMAGES.

A batalha de Acosta Ñu aconteceu próximo a cidade de Eusebio Ayala, cidade localizada a 250 km de Ciudad del Este e foi um verdadeiro massacre.

“De um lado estavam os brasileiros, com 20 mil homens”, escreveu Chiavenato. “De outro, os paraguayos, com 3,5 mil soldados entre 9 e 15 anos, além de crianças de 6, 7 e 8 anos que também acompanhavam o grupo.”

A batalha começou pela manhã e chegou ao fim cerca de 10 horas depois, com quase nenhum sobrevivente paraguayo.

Potthast afirma que, para que os soldados brasileiros não percebessem que lutavam contra crianças, foram colocadas barbas falsas nos meninos. Já Chamorro argumenta que não haveria tempo naquelas circunstâncias para que se preocupassem com esse tipo de detalhe. Diz-se ainda que os pequenos iam armados com varas que simulavam rifles.

“As crianças de 6 a 8 anos, no calor da batalha, aterrorizadas, se agarravam às pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não os matassem. E eram degoladas no ato”, escreveu Chiavenato em sua obra, conforme a tradução do Portal Guaraní.

O decreto que em 1948 fixou o 16 de agosto como Dia da Criança no Paraguay destacava a importância de “fomentar por todos os meios a difusão e intensificação do sentimento nacionalista por meio das grandes memórias”.

Hoje, as crianças de Acosta Ñu são reverenciadas como símbolos de heroísmo nacional.

Com informações BBC News Brasil.