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O amor de Rita Araújo pela Matriz São João Batista começa desde quando estava na barriga da mãe. Foi praticamente “criada” na matriz. Batismo, primeira comunhão, crisma, casamento, tudo lá. A mãe costumava cantar com as freiras nos casamentos.

“A igreja pra mim é tudo. Estudei no Colégio São José. Na minha época de criança, ficava encantada pela disciplina das freiras, que passavam com muita espiritualidade a religião. Não tinha muita coisa para fazer na cidade, então a igreja era tudo pra gente.”

O churrasqueiro da igreja era seu tio “Dada”, pioneiro e primeiro carroceiro da cidade. Ele trazia areia do Rio Paraná para os perímetros urbanos. Todo domingo, a família inteira se reunia lá. Assim como a comunidade iguaçuense.

Apaixonada pela história da matriz, viu que o livro de tombo estava virando literalmente “pó”. Ela, então, digitalizou por conta própria o livro todinho, para a história nunca se perder. O livro de tombo da Igreja Matriz São João Batista é tão importante que, no começo do século 20, pela situação de ausência de um cartório oficial do município, era nele que se fazia o registro de nascimentos e óbitos locais.

Para entender como começou a paixão de Rita pela matriz e também dos moradores da cidade, é preciso voltar no tempo, bem lá atrás, quando Foz ainda era uma colônia militar.

O inicio da Igreja Matriz São João Batista

Antes da criação do município, somente um padre de Posadas, Missiones/AR, havia visitado duas ou três vezes a comunidade para dar atendimento religioso. A população reclamou um padre do lado brasileiro.

Em 1907, padres itinerantes da Congregação dos Verbos Divinos do município de Guarapuava passaram a vir à colônia, apenas uma vez por ano, atender à região devido as dificuldades encontradas. Eles viajavam a cavalo mata adentro e demoravam até três meses para chegar a Foz.

Sete anos depois, em 1914, a Colônia Militar se desmembrou de Guarapuava para transformar-se no município de Vila Iguaçu – hoje conhecida como Foz do Iguaçu. A cidade ganhou mais vida. Vieram militares, autoridades federais e estaduais e funcionários públicos.

Para a alegria dos fiéis, o primeiro prefeito da cidade, Jorge Schimmelpfeng, juntamente com a família do doutor Saulo Ferreira, pioneiro local, fez a doação do terreno para que fosse construída a capelinha de madeira em 1916, no mesmo local onde hoje se encontra a Igreja Matriz São João Batista.

A primeira Igreja de Foz do Iguaçu
Interior da capela de madeira do século 20./foto: Harry Shinke

A reza era feita em língua castelhana. Em 1918, o padre dinâmico Guilherme Münster, de Guarapuava, conquistou a simpatia dos iguaçuenses. Quando se despediu, muitos fiéis o acompanharam até certo ponto na saída para a Estrada Velha de Guarapuava.

Passaram quatro anos-1922- para que o padre Guilherme Maria Thiletzek viesse de Guarapuava fazer uma viagem de inspeção na “Vila Iguaçu”, para estudar a possibilida de de a pequena capela virar uma paróquia.

A visita deu certo e, em 1923, padres do Verbo Divino (“Verbitas”) chegaram a Foz após 20 dias de viagem, transportados por duas carroças. Guilherme Maria Thiletzek foi nomeado o primeiro sacerdote de Foz.

O padroeiro da capela

São João Batista foi escolhido pela esposa de um militar de alta patente que doou uma imagem do santo para a primeira celebração realizada no local. A condição era que a matriz fosse dedicada a ele.

Incêndio faz a igreja virar escombros

No dia 5 de maio de 1925, uma grande festa de missa campal ao ar livre foi organizada na Capela São João Batista, com leilão em favor da nova igreja. Houve festa, procissão e muitos fogos de artificio pela paz. Era de tardezinha quando a pequena igreja de madeira foi atingida por um rojão desgovernado e, segundos depois, transformou-se em uma grande fogueira. A nova igreja virou um monte de escombros.

A primeira Igreja de Foz do Iguaçu
Incêndio da capela./foto: Harry Shinke

Depois do desastre, uma boa coisa. Em 1926, Foz do Iguaçu foi levada à condição de prelazia, o que oficializou os cuidados dos sacerdotes do Verbo Divino com a comunidade católica iguaçuense, reconhecendo o pioneirismo da congregação.

Prelazia
Tipo de organização dentro da igreja Católica Iguaçu foi elevada para atender a determinadas necessidades tanto territoriais quanto lizou os cuidados de grupo de fiéis

O então padre Guilherme Maria Thiletzek foi nomeado administrador apostólico, passando a ser chamado popularmente de monsenhor Guilherme. Ele começou a fazer o planejamento da nova casa paroquial em alvenaria, mais ampla e confortável. O novo vigário passou a ser Vicente Hackt, que auxiliou na construção.

A obra de alvenaria foi finalizada somente em 1930. Dentro da nova paroquia passou a funcionar o Colégio das Irmãs – assim foi dado início à educação católica privada em Foz do Iguaçu, que depois passou para a atual sede do Colégio Vicentino São José.

Outro marco na história da Matriz São João Batista – também em 1926-foi a construção do Hospital de Caridade, dedicado a São Rafael. Posteriormente, o hospital se tornou a Santa Casa Monsenhor Guilherme, que teve as atividades encerradas em 2006.

Do escombro à prisão

Em 1937/1938, havia um arquiduque da Áustria que se hospedava na casa dos padres, pois tinha uma grande fazenda no Paraguai, à qual ia e vinha de avião. No início de 1938, voltou ao seu país prometendo retornar no mesmo ano. Em março de 38, as tropas de Hitler invadiram a Áustria. Ele foi preso e nunca mais voltou.

O Brasil, um país neutro, entrou na Segunda Guerra Mundial contra os países do eixo. No início, a vida dos padres – todos de nacionalidade alemã – continuou com a rotina normal. Mas quando a “Lei da Fronteira e do Litoral” entrou em vigor, vieram também severas consequências.

Aquele arquiduque preso deixou aos cuidados dos padres caixotes grandes que continham artigos pessoais. Entre eles também alguns fuzis, munição e dois quilos de dinamite. Os padres não sabiam do conteúdo das caixas e guardavam tudo em um quarto sempre chaveado.

Um conhecido do austríaco, em 1942, sabia o que tinha dentro das caixas. Ele denunciou o então responsável pela igreja, monsenhor Könner, na delegacia – ele não sabia de nada, pois em 1938 morava em Minas Gerais. O padre foi preso em 1943, solto dias depois e novamente detido em 1944, condenado a três anos de cadeia

Após reclamações e intervenções, no dia 15 de fevereiro de 1944, Könner foi absolvido e seu processo acabou arquivado, por falta de provas.

Tocam os sinos

Os badalos dos sinos da torre que soam até hoje em dia às 12h e às 18h na igreja foram doados pelo senhor Miguel Matte – que fez uma promessa de que se suas imensas propriedades fossem legalizadas, doaria os sinos à igreja.

Eles foram tocados pela primeira vez no Natal de 1952 – infelizmente, instalados á meia altura devido à ausência de madeira para colocá-los no topo da torre. Dois anos mais tarde, em 1954, aconteceu mais uma catástrofe, por causa do peso desses alicerces com o sino em movimento.

Mais caos

Eram por volta das 20h30 de 9 de junho de 1954 quando, durante cerimônia religiosa, o pânico começou. Os que estavam na parte frontal da paróquia viram alguns fragmentos de reboco caírem. As pessoas começaram a correr para fora da igreja. Crianças e idosos foram derrubados e pisoteados. Por sorte, ninguém ficou ferido gravemente.

Entre os que lá se encontravam estava também Ney Schimmelpfeng, neto de -Jorge, e a pioneira da cidade Loty Ferreira.

Criação da Diocese de Foz

Passados os anos de sofrimento, em 1978 uma coisa boa: foi criada a Diocese de Foz do Iguaçu e a Matriz São João Batista passou a ser catedral, condição que perdurou até 2007. O ano marcou também o inicio de uma reforma e ampliação do prédio da igreja.

A maior reforma da história

Em setembro de 2013, para a felicidade dos fiéis, a Igreja Matriz São João Batista deu inicio à maior reforma registrada na história desde 1978.

As mudanças, a principio, seriam: nova cobertura, troca de forro, ampliação do presbitério – onde seria feita a retirada de uma parede e construída outra em diagonal. O objetivo era ampliar a área e melhorar a visão dos sacerdotes pelos fiéis.

Como em toda reforma, problemas foram aparecendo no dia a dia e acabou sendo detectado que na parte estrutural havia poucos pilares de sustentação. As paredes laterais eram a própria a estrutura da obra. Profissionais especializados em estragos constataram que quase toda a obra teria de ser refeita. Inclusive era preciso retirar algumas paredes o presbitério que estava trazendo risco para toda a estrutura.

A primeira Igreja de Foz do Iguaçu
Parte interna da Igreja reformada, 2015./ Foto: Jorge Pegoraro)

A equipe de trabalho precisou reestruturar completamente a igreja, refazendo os ambientes similares aos da época, colocando pilares de sustentação, cobertura com telhas metálicas, isolamento acústico, forro com gesso, acessibilidade, nova iluminação e outra pintura. A única coisa que restou intacta foi a parte frontal – onde o sino está localizado.

Edélcio Amaral, engenheiro civil, coordenador da obra, em entrevista ao programa História e Memórias, da Rádio Transamérica, deixou uma boa mensagem aos fiéis: “Hoje nós temos uma igreja estável e, ao longo de milênios, nós vamos ter realmente está estabilidade, sem qualquer comprometimento.” afirmou.

Matéria publicada originalmente na edição de outubro de 2015 da Revista 100fronteiras. Com a colaboração de Jorge Pegoraro e Rita Araujo.

Horário das Missas

As missas é feita todos os dias às 19h. E o toque do sino também é feito todos os dias às 18h.

Devido a pandemia da covid-19, são autorizadas apenas 150 pessoas na Igreja, seguindo todos os protocolos de segurança: máscara, álcool em gel nas mãos e distanciamento social.

Endereço:  Av. Jorge Schimmelpfeng, 70 – Centro, Foz do Iguaçu – PR, 85851-110

Telefone:  (45) 3523-5045

Facebook: Matriz São João Batista Foz

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