A família de Frederico Engel preservou a lista de hóspedes do seu Hotel Brasil no qual se hospedou Santos Dumont em Foz do Iguaçu. O ano era 1916 e o aviador vinha de uma longa passagem pelos Estados Unidos visitando fábricas de aviões. De lá, foi para o Congresso Pan-Americano de Aviação, no Chile. Do Chile, foi para Buenos Aires e decidiu conhecer o Iguaçu. Ficou hospedado no hotel de Frederico Engel com quem passou dois dias na “filial” junto às Cataratas do Iguaçu.

Reconhecido no Brasil como inventor do avião, Santos Dumont era uma personalidade internacional. É pouco provável que sua visita às Cataratas do Iguaçu foi mero acaso. Ele veio porque já havia conhecido as Cataratas do Niágara (nos Estados Unidos) e certamente queria conhecer e comparar com as Cataratas do Iguaçu, como de fato o fez.

Encontrou muitas diferenças e sua reação conhecida foi bolar um novo plano genial: ir falar com o governador do Paraná para fazer algo pela conservação ambiental e pelo turismo no Iguaçu.

Dumont em Curitiba

Em 1916, a forma mais fácil de viajar de Foz do Iguaçu até Curitiba era navegar pelo Rio Paraná até Posadas (Argentina) e seguir de trem para o Rio Grande do Sul, de lá continuar a viagem até Ponta Grossa, depois Curitiba. Dumont preferiu o caminho mais difícil: ir a cavalo pelo interior do Paraná seguindo a picada do telégrafo.

Na capital paranaense, o aviador foi recebido pelo governador Affonso Camargo. A família Camargo até hoje mantém a memória do encontro. Em 2009, um de seus netos cedeu uma foto do avô, de Dumont e outras autoridades assistindo a um jogo em um estádio de Futebol em Curitiba.

Não temos o registro da conversa de Dumont e do governador, mas sabemos do resultado que ela produziu. Três meses depois, toda a área em torno das Cataratas do Iguaçu foi desapropriada sob o argumento de utilidade pública. Finalmente, em 1919, seu antigo proprietário aceitou a indenização e encerrou o processo. 

Em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Dumont deu uma pista do conteúdo da reunião de Curitiba. Disse que foi pedir ao governador do Paraná que se interessasse pelo turismo no Iguaçu. Há duas chaves para entender esse pedido: a possibilidade de se criar uma área de preservação ambiental e o desenvolvimento da atividade turística.

Inspiração em Niágara

Na mesma entrevista, Santos Dumont comparou as Cataratas do Rio Iguaçu com as Cataratas do Rio Niágara, distante cerca de 8 mil quilômetros. Há indícios de que o aviador tenha conhecido aquele atrativo turístico no final do século 19. Além de aviação, Santos Dumont era um aventureiro na natureza.

Uma das viagens de Dumont aos Estados Unidos sugere uma data possível para sua visita em Niagara Falls. No ano de 1894, o aviador esteve em Boston e em Chicago, sendo que o trajeto comum passava pela fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, mais precisamente na região de Niágara. Naquele ano, o turismo em Niágara já somava 90 anos e havia uma unidade de conservação, o Parque Estadual Niagara Falls, criado em 1885 (9 anos antes).

Em Niágara, Santos Dumont teve contato com as ideias de preservação ambiental e experimentou um turismo profissional. Ao passar pelo Iguaçu, ficou impressionado com a beleza “maior, muito maior” das Cataratas da América do Sul. Mas, ao contrário de Niágara, o atrativo estava em uma área privada e praticamente inacessível aos turistas.

Não foi ao acaso que o Decreto 653 do Governo do Paraná mencionou a futura criação de “uma povoação e um parque”.  De igual forma, não foi ao acaso que no final do mandato de Affonso Camargo inaugurava-se a primeira estrada de terra que facilitava o acesso ao Iguaçu. A estrada precursora da atual BR-277. Santos Dumont influenciou decisivamente nos passos do Governo do Paraná em relação à Foz do Iguaçu.