Era sexta-feira, dia 3 de outubro de 2014. Eu e o fotógrafo Marcos Labanca resolvemos descer a Avenida Brasil a pé. Tínhamos a intuição de que a rua movimentada traria alguma boa surpresa. E trouxe. Seu nome? Paulo Roberto Bento, vulgo “Nego Bento”.

Publicidade

Um homem negro, vestido totalmente de branco, que conversa e puxa assunto sem parar com quem passa por ele. Nos Estados Unidos, se chamaria: “Paul Robert Bethoven” – como ele diz. Eu, Marcos Labanca e também a cinegrafista Ana Christina, caímos em gargalhada. Nego nos questionou com um tom irônico:

“Cês tão rindo do que? É verdade, pô”. Em seguida, caiu em gargalhadas conosco, claro!

Nego Bento é um personagem peculiar da cidade de Foz do Iguaçu. Que as sextas-feiras se veste de branco – vou explicar depois. Usa colar e óculos escuros, todo sorridente e cumprimentando a um monte de gente que trabalha, ou, que passa pela rua.

Labanca me contou que se tratava de Nego Bento. Perguntei a Nego se ele poderia nos conceder uma entrevista. Com sorriso nos lábios, disse que sim e nos convidou para irmos ao quiosque “Calçada Feliz”, que fica em frente a loja Feliz Calçados. Nego é frequentador assíduo do local. Ao sentarmos, todo educado, me oferece um trago:

“Pede lá um chá, um café, café com leite.”

Publicidade

Eu agradeci.

“Muito obrigada. O senhor quer que eu pegue alguma coisa?.”

“Não, eles já sabem. Eu já sou de casa.”

Publicidade

Fiquei curiosa.

“E o que eles já sabem?”

“Eu tenho um leite especial de soja. E eu deixo aqui.”

Percebi que ele já conhecia o local.

“Você vem aqui todo dia?”

“Toda vez, quando eu não quero fazer nada em casa, eu venho. Aqui eu faço alguma coisa, tipo encontro vocês da reportagem e tal.”

Paulo Roberto Bento, o Nego Bento, em Foz do Iguaçu.
Paulo Roberto Bento, o “Nego Bento”/Foto: Marcos Labanca.

Paulo Roberto nasceu no interior de São Paulo, cidade de Assis, em 15 de junho de 1954. Conhece o Brasil como poucos. Aos 15 anos, estava na “estrada”. Virou um mochileiro por três anos e cruzou o país. Já esteve em 23 estados dos 26 existentes. Pretende conhecer os três  restantes este ano de 2015. Ele disse que antes de vir para Foz do Iguaçu, nunca tinha ido para fora da Tríplice Fronteira. É um cara apaixonado não só pela cidade cosmopolita, mas sim pela nação verde amarela inteira.

“Graças a Deus nunca sai do Brasil, mas admiro quem vai pra fora.”

Há 38 anos, adotou o município de Foz do Iguaçu como terra natal. Passou em um concurso na Hidrelétrica de Itaipu Binacional, em 1976, e ficou por doze anos na área de segurança física. Depois, Bento foi para a área do transporte. Ficou lá por mais 20 anos, até chegar à aposentadoria em 2007.  Ele pode até dar as suas escapadinhas para o Nordeste ou para o Rio Grande do Sul, mas desde que chegou nunca pensou em deixar a “Terra das Cataratas”. Aliás, vai às Cataratas todos os anos, do lado brasileiro e também do argentino.

“Ah! Eu sou Iguaçuense. Todo ano eu vou às Cataratas do nosso lado, mas eu adoro as Cataratas Argentina também, 110 metros em cima daquela passarela. Não é Jesus Cristo, mas anda em cima da água, né? Eu adoro fazer aquele percurso ali”.

Paulo Roberto Bento, o “Nego Bento”, concedendo entrevista para à 100fronteiras em 2014/Foto: Marcos Labanca.

Ele já conheceu diversas religiões por curiosidade; igreja evangélica, luterana, espírita. Também o candomblé, espiritismo e budismo. Hoje, faz parte da colônia afro em Foz. Há quinze anos, todas as sextas-feiras, se veste com o traje branco feito com carinho pela esposa. A escolha da cor é para elevar as vibrações positivas e repelir as negativas.

Com sorriso no rosto e o cumprimento na ponta da língua, durante a reportagem, não era estranho ouvi-lo gritar com alguém que passava: “TUDO BEM, AMIGA. SÓ ALEGRIA!” Uma simpatia de pessoa, sempre disposto a fazer amigos.  Inclusive, depois da aposentadoria, fez um curso de ingestão eletrônica só para socorrer os amigos que ficassem parados no trânsito por causa de problema na bateria. Mas, ele descobriu que essa coisa de mecânico não era o seu hobbie favorito. O que ele gosta mesmo é de baile. Falou em dançar é com ele mesmo, que aí ele capricha, escolhe roupas de linho e exibe estilo social.

Ele também gosta de velório. Esquisito? Nego tem uma explicação plausível:

“Hoje eu vivo de baile, velório. Alias, adoro velório. Você vai ao velório do outro porque dai ele não vai ao teu. Né?”. Risos.

Em memória de Paulo Roberto Bento.
Reportagem publicada no ano de 2014 na Revista 100fronteiras.

Anúncio Publicitário.
Anúncio Publicitário.

Participe da conversa

2 Comentários

Deixe a sua opinião

  1. Parabéns pela linda homenagem… Foz perde um ícone… lamentável…um abraço à td equipe…