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Matéria da jornalista Annie Grellman, escrita no ano de 2014, que conta a história da Agência Tass.

Há 30 anos surgia a Agência Tass, inaugurada pela tradicional família iguaçuense Rafagnin, no ano de 1990

“Que saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar.”

Chico Buarque

Você lembra? Eu não lembro, não era nem nascida! Não estive presente naquela época, mas, se recordar é viver, então vamos aos fatos: A ligação da família com a vida noturna começou após uma conversa. Os Rafagnins sentiram a necessidade de Foz do Iguaçu ter mais uma opção de entretenimento para o turista, assim ele permaneceria mais tempo na cidade.

Após meses de pesquisas e idas a São Paulo para visitar as casas noturnas mais modernas do país, eles colocaram as mãos na massa. Mas, antes disso, teria que ser decidido o nome da casa, a cor, tipo de iluminação. Ou seja, foi um “show” à parte nos bastidores, que você pode conferir nas linhas abaixo e, quem sabe, matar um pouco desse sentimento que aperta o peito, afinal o nome deste quadro é: Chega de Saudade.

Ela foi considerada uma das casas mais modernas do país, com sistema de som e iluminação compatíveis com os da Europa. A espera por camarote chegava a ser de três meses.

O nome

A escolha do nome se deu por meio de um concurso na Rádio Itaipu, aberto a qualquer um que quisesse participar com uma sugestão que seria usada para a abertura de uma casa. Os Rafagnins não especificaram que tipo de casa seria, apenas falaram que se tratava de um local diferente e que o nome escolhido daria a seu autor uma carteira permanente na casa. Muitas pessoas participaram, inúmeros nomes foram sugeridos.

A família escolheu 20 entre esses e enviou para uma agência publicitária renomada, situada na capital paulista. A ganhadora do concurso foi Josabete de Alvarenga Oliveira, que recebeu uma premiação de 10 mil cruzeiros e uma carteira vitalícia na casa, que foi usada por ela e, posteriormente, por seu filho ao completar 18 anos. “Quando eu vi, não acreditei que tinha sido escolhida.”

Curiosidade – A casa foi aberta quase na época da queda do Muro de Berlim (1989), e Tass era a agência central de coleta e distribuição de notícias tanto nacionais quanto internacionais para todos os meios de comunicação da antiga União Soviética. Mas o que pesou mesmo na decisão do nome foi a grafia, que ficou “muito bonita”.

A cor

Antes da inauguração, foi feita a escolha da cor da casa, Uma pintura com uma cor chamada de Violeta Iguaçu. Violeta Iguaçu? Que cor é essa? Para que você entenda, precisamos voltar no tempo, exatamente para uma viagem realizada à cidade de Buenos Aires, capital da Argentina, por uma das idealizadoras do projeto: Nelci Rafagnin.

Ela esteve lá poucos dias antes da inauguração da “balada” e, passeando pelas ruas argentinas, avistou, de dentro de um táxi, uma casa que possuía uma cor que até então ela desconhecia. Era uma cor meio roxa, e veio em sua mente a imagem da casa noturna pintada.

Logo, pediu para que o taxista voltasse e parasse. Ela teria de fotografar aquela casa, com aquela cor, que passaria a ser a típica cor da Agência Tass. Não foi assim tão simples, chegando a Foz Nelci imediatamente revelou a foto e descobriu que aquela cor não existia no Brasil, apenas no país hermano.
Ela procurou, então, uma pessoa que pudesse fazer a mistura da tinta para chegar àquela cor específica. Não teve sucesso. Mas não desistiu, procurou a Coral e mandou fazer a tinta. Para tanto, precisava adquirir uma quantidade absurda: 250 latas de 3,6 litros.

Sem pensar duas vezes, mandou fazer. Ela tinha certeza de que aquela seria “a cor da Agência Tass”.
“A tinta Violeta Iguaçu fui eu quem criou.”

NElci Rafagnin

Quatro dias antes da inauguração, a tinta chegou. Era de tarde, e à noite Nelci fez um mutirão com 20 pintores. A casa, branquinha, amanheceu Violeta Iguaçu.

A inauguração

Antes do grande dia, a família se juntou novamente e fez um “mailing”, convidando os amigos e conhecidos da sociedade iguaçuense. Após muita pressão para que a data de inauguração fosse mudada, pois eles estavam atrasados com o andamento da obra, o que não aconteceu, porque Nelci não aceitou uma mudança, chegou o grande dia: 20 de dezembro de 1990, e no fim deu tudo certo, a noite de abertura foi um sucesso total.

Começou entre as 23h e 23h30. Os convidados entraram na casa. A música tocava timidamente, e todos estavam parados. Quando deu o horário, apagaram-se todas as luzes, um breu só, de repente começou a iluminação de última geração e o local foi entupido de fumaça branca. Simultaneamente, o som, as luzes e a música deram início à casa e também àquela famosa abertura da Agência Tass, que passou a ser um diferencial.

Curiosidade – Dois golden scans (luzes de última geração da época), que eram lançamento, vieram de Londres direto para a Terra das Cataratas. Passaram por ali 2 mil pessoas, e rolou open bar a noite toda. Nos dias atuais, as pessoas chegam às casas noturnas por volta da uma da manhã, mas na época da Agência Tass o público chegava por volta das 23 horas, para não perder o famoso show de abertura.

A noite latina

Para Nivaldo Rafagnin, as noites de maior prestigio eram as de quinta-feira, ao som do ritmo latino. Conforme ele, aquele era o dia da semana de maior sucesso que tiveram. A casa chegou a comportar, em uma noite, 2.400 pessoas. O público inicial era constituído por 90% de paraguaios, 7% de argentinos e somente 3% de brasileiros.

Mas a população brasileira gostou tanto da noite latina que, posteriormente, houve uma reviravolta e o público passou a ser constituído por brasileiros, seguidos de paraguaios e argentinos.

“A noite latina, pra mim, foi a noite mais marcante que a gente teve. Dois anos depois, São Paulo começou com a mesma atração em muitas casas. Os paraguaios iam trabalhar sem dormir na sexta-feira, e 70% das pessoas que iam a noite latina, principalmente os que trabalhavam no Paraguai, iam trabalhar no dia seguinte sem dormir. Foi a época auge do Paraguai, 1992, e tinha muito movimento. A casa foi pioneira no Brasil com o tema de noite latina.”

Nivaldo rafagnin

Na década de 90, Ciudad del Este chegou a ser o terceiro polo comercial do mundo, atrás apenas de Miami e Hong Kong.

Celebridades na Agência

Por uma casa moderníssima como foi a Agência Tass não poderiam deixar de passar celebridades, e foram muitas, entre elas: Hêlo Pinheiro (eterna Garota de Ipanema), Ana Paula Arósio, Mylla Christie, Ney Matogrosso, Fernanda Montenegro, Rosamaria Murtinho, Thiago Lacerda, Dado Dolabella, Paulo Autran, Gilberto Gil, Luís Carlos Miele, Itamar Assumção…

Curiosidade – No ano de 1993, um dos lançamentos nacionais da banda Skank foi realizado em nossa cidade, e adivinhem onde? Na Agência Tass, é lógico! Foi o álbum Skank/1993 – época em que a banda saía do anonimato e partia rumo ao estrelato. O vocalista, Samuel Rosa, cantou com a camiseta do Foz do Iguaçu Esporte Clube, que na ocasião estava na primeira divisão do Campeonato Paranaense.

Lado Cultural

Não foi só a casa noturna que ocupou o espaço da Agência Tass. Houve muitas apresentações de teatro, porém a maioria não tinha público. O equilíbrio entre a cultura e a população não foi encontrado, e o custo-benefício era maior.

“Mesmo que não desse lucro para nós, contribuía para a imagem institucional da marca, um investimento. Levamos muito prejuízo, mas aguentamos por bastante tempo.”

A frequentadora Nathalie Husson Granzotto afirma: “Os Rafagnins contribuíram muito com a cultura, mas naquela época Foz não tinha público”. O grupo trouxe os consagrados atores Paulo Autran e Fernanda Montenegro para uma apresentação – essa foi uma das que deram certo, pois eram de renome nacional.

O fechamento da casa

No decorrer dos anos, sempre houve modificações internas, mudanças da decoração e também do nome. A Agência Tass da reportagem, aquela que era uma das melhores casas noturnas do Brasil, deu adeus em 1996. Sem motivo em particular, e sim pela busca por mudança.

A nova geração, que estava à frente da Woods Bar Foz, esclarece: “Surgiu a oportunidade bacana de trazer a Woods para Foz, mas a gente não fechou, somente interrompemos, e foi em alta, não foi com a casa ‘morta’. Interrompemos de boa forma e trouxemos a Woods para cá.”

Mas, caro leitor, não fique triste. O nome ainda pertence à família Rafagnin. A marca Agência Tass é dela. Quando perguntado ao Nivaldo, Nelci e Névio Jr. se algum dia existiria a possibilidade de a casa voltar, a resposta foi:

“Por que não”?

#VoltaAgênciaTass 

Comentário de quem está cheio de saudades

Nathalie Husson Granzotto:“No ano em que o filme brasileiro Quatrilho estava concorrendo ao Oscar, os Rafagnins organizaram uma noite com direito a tapete vermelho e todos vestindo roupa de gala, como se todo mundo estivesse em Hollywood participando do evento. Foi a noite mais engraçada que eu presenciei.”

Sebastian Alarcon:“Quinta-feira era uma das noites mais badaladas, noite latina. Cada final de semana tinha uma celebridade global. Lembro-me do Paulo Autran, da Fernanda Montenegro e da Garota Top Tass que, na época, foi um sucesso. Obras de arte também eram expostas na Agência Tass. Enfim, a Agência era uma casa para agradar a gregos e a troianos.”

Rossana Schmitz:“A Agência Tass – danceteria, casa de shows e eventos – foi um ícone de diversão e cultura nos anos 90, atraía visitantes de toda a Tríplice Fronteira, assim como da Região Oeste do Paraná. Era impossível vir a Foz e não vivê-la! Sua proposta, mais do que dancing, foi abrir espaço para a cultura e oferecer atrações para todas as idades. Inúmeros shows (Skank, Cidade Negra, Engenheiros do Hawaii, Lulu Santos, Ney Matogrosso, Demônios da Garoa, Supla, Rosa Maria, para citar alguns), peças de teatro (Paulo Autran, Ester Góes, Maria Zilda, Felipe Camargo, Vera Fischer), desfiles e apresentações artísticas agitavam e animavam Foz do Iguaçu. Sou jornalista e fui assessora de imprensa da Tass por cinco anos.”

Alexandre Freire: “Fui do Departamento de Eventos da Agência Tass do ano de 1991 até o ano de 1992. Um dia memorável para mim foi o dia que trouxemos a banda Guns N’ Roses cover, uma banda paulista quase idêntica à original – era o início das bandas covers no Brasil. Foi um sucesso absoluto, tinham quase duas mil pessoas na casa. Aquilo foi inesquecível.”

Fotos: Rossana Schmitz.

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