Por: Raouda Assaf, empreendedora, arquiteta e designer

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Quando graduados em Arquitetura, podemos não saber muito bem o que vamos fazer com todos os conhecimentos acumulados. São quatro anos de teorias, projetos, práticas de sala de aula e estágios. Mas isso é apenas ser estudante de Arquitetura. Porém uma coisa é certa: sabemos uma miríade de “novidades” sobre estética, conforto, composição, equilíbrio etc. Todas essas, quando bem usadas, transformam espaços privados e públicos, negócios, experiências e vidas.

No meu caso, saindo da faculdade, fui para a loja varejista de móveis da família. O objetivo era levar esses novos conhecimentos adquiridos na faculdade para o negócio da família, mudando a experiência do cliente por meio da transformação do espaço em algo mais acolhedor e requintado. Afinal de contas, era hora de retribuir por tudo que havia recebido.

Dentro de uma empresa, sempre surgem oportunidades de envolvimento em várias áreas, principalmente quando a empresa é pequena e os seus membros devem acumular funções. E isso é fantástico, pois só com a diversidade das experiências temos a transformação das habilidades já adquiridas e a criação de novas.

Para minha sorte, pude cuidar desde o atendimento aos clientes até os projetos e o acompanhamento das implementações desses. Ademais, nas mostras de decoração, podia levar a criatividade e experimentação para além do cotidiano e ousar mais. Uma experiência que depois é revertida para a prática de arquitetura cotidiana, pois é aprendizado. E, um lembrete, em Arquitetura, toda a prática é um momento de aprendizado, seja do novo, seja da reavaliação do conhecido, seja de melhoria.

Concomitantemente, optei por me dedicar à prática mais comum da arquitetura, mas me mantendo dentro da área de projetos de interiores e para lojas varejistas. Essa experiência da independência é fundamental para a construção da originalidade, do estilo próprio e da segurança de sabermos internamente que somos capazes de pensar, planejar e implementar os projetos de forma a atender às expectativas dos clientes e ir além delas, propondo melhorias e ampliando-as.

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Nesse momento, os cursos complementares são fundamentais, pois, ao nos afastarmos do mundo acadêmico, apartamo-nos das novidades e dos novos saberes. É sempre fundamental e, mais ainda, necessário revisitar as nossas áreas de saber, sejam quais forem.

Porém, como tudo está em constante transformação, era hora de mudar mais ainda, de mudar de país, de continente. A Europa era o destino. Do um ano planejado, seguiram-se vários. Viajar é de suma importância para todos, ainda mais para quem labuta na área da estética, pois ao viajarmos temos novas experiências visuais, de inserção e trânsito por novos espaços arquitetônicos. Viajar aumenta exponencialmente a nossa biblioteca visual.

Mas as mudanças não param, não podem parar jamais. Assim, fui para a área de Moda, e em Londres. A experiência foi profundamente transformadora. Era outra língua, linguagem (estética), suporte (corpo humano), público, experiência cliente-produto-produtores… ufa, tudo era diferente. Mas, vencidas as dificuldades iniciais, os produtos estavam nas vitrines das famosas Harrods e Selfridges.

Mais uma vez, vieram as feiras de moda, a criação de uma marca própria, a exposição em museus (a Moda está nos museus!), reconhecimento acadêmico, desenvolvimento de coleções para grandes e famosas marcas, desfiles de moda etc. O que prova que a estética está em todos os lugares, que pode mudar o suporte, a linguagem, o público-alvo, a forma de distribuição e consumo, mas ela, a estética, está em toda a parte, embrenhada na vida humana desde 70 mil anos atrás, quando os primeiros humanos, no Sudoeste da África, fizeram um colar para adornar o corpo, transmitir uma mensagem, ou qualquer outro motivo, todos válidos.

A decisão pessoal de trazer a marca para o Brasil foi outro motor de transformação, mas, dessa vez, traumática e cheia de lições. Ao trazer a marca ao país, foi necessário cuidar de tudo, ser multitarefa. Funcionou muito bem, com excelente aceitação e vendagens nas melhores lojas, contudo foi por um tempo. O ritmo da moda nacional, com quatro coleções anuais, e as dificuldades de lidar com as fábricas, que chegavam ao ponto de não entregar encomendas, exigiram uma pausa na máquina criativa-empresarial.

E disso ficou uma lição importante: não basta apenas ser um excelente produtor de objetos estéticos. A gestão de um negócio necessita de mais do que isso. Empreender é produzir, distribuir e fomentar o consumo. E, com essa lição, hoje, assumo poucos projetos simultâneos. A cada empreitada formo parcerias complementares para um desenvolvimento e concretização mais completos. Isso tem garantido uma melhor qualidade de vida e clientes muito satisfeitos.

Cada projeto é único, podendo ser manter o desenvolvimento da antiga loja da família, uma galeria de artesanato brasileiro no Líbano, uma linha própria de movelaria, uma cobertura, uma cafeteria etc. Qualquer um é único e fonte de transformações e aprendizados. E esses, muitas vezes, nem estão ligados ao Design em si, mas são de áreas conexas ao negócio do projeto.

Essas infinitas possibilidades do Design são o motor criativo e de continuidade na área. Para mim, essas possibilidades são a melhor parte de todo o trabalho.

 

 

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