Gilmar de Oliveira, diretor-superintendente da Fundação de Saúde Itaiguapy, administradora do Hospital Itamed e do Plano de Saúde.
100fronteiras — Para começar: quem é o Gilmar e como sua trajetória o levou à direção do Itamed?
Gilmar de Oliveira — Sou paranaense, nascido em Arapoti, criado em Jaguariaíva e graduado em Ponta Grossa. Em 2008, o concurso da Itaipu me trouxe para Foz do Iguaçu — cidade que hoje chamo de casa. Foram mais de dez anos dedicados às áreas de logística e suprimentos: armazenagem, controle de estoques, gestão de pessoas, indicadores e projetos. Depois, segui para a área de projetos socioambientais, onde participei da gestão de convênios importantes — como os da nova ponte com o Paraguai, a ampliação da pista do aeroporto e da BR-469 — além de parcerias com hospitais. Em 2023, recebi o convite para assumir o Itamed. Embora não venha da área da saúde assistencial, trago comigo uma bagagem sólida em gestão, estratégia e liderança. E acredito que um diretor não faz nada sozinho: o resultado acontece quando há um time forte, comprometido e com propósito.
100fronteiras — Quais competências você destaca nessa transição?
Gilmar — Interlocução, negociação e gestão de pessoas. Esses são pilares que norteiam qualquer processo de transformação. Nosso foco está em elevar o nível de profissionalização da instituição: revisar processos e cultura, aprimorar controles, otimizar logística e suprimentos, combater desperdícios de tempo ou retrabalho. Também buscamos fortalecer a gestão por indicadores, o compliance, a auditoria e a transparência. Não se trata de reinventar a roda — mas de olhar para as boas práticas daquilo que se faz de melhor no mercado nacional da saúde, e buscar reproduzir aqui, claro adaptando a nossa realidade.
100fronteiras — Com tantos avanços tecnológicos, como manter o atendimento humanizado no hospital?
Gilmar — A saúde é uma área que toca diretamente o emocional das pessoas. Lida com sentimentos, ansiedade e insegurança. A tecnologia e a Inteligência Artificial vêm para somar, liberando os profissionais de tarefas operacionais para que possam se dedicar àquilo que é essencialmente humano: o cuidado, a escuta, a empatia. A sensibilidade se cultiva. Cada paciente é único, e é fundamental que mantenhamos o brilho no olhar em toda a jornada de cuidado.
100fronteiras — O que faz do Itamed uma referência regional?
Gilmar — O Itamed é uma instituição consolidada, com mais de 46 anos de história. Nossa experiência abrange um vasto conjunto de diversas especialidades e subespecialidades, com equipes médicas e assistenciais qualificadas e experientes, diversos tipos e categorias de procedimentos, grande parte deles de alta complexidade. Essa trajetória nos proporcionou o que chamamos de “mão calibrada”: um know-how assistencial construído ao longo do tempo, que se reflete em segurança, precisão e confiança, tanto para nossas equipes quanto para os pacientes.
100fronteiras — Quais os desafios de liderar um hospital que atende diferentes públicos da cidade e região?
Gilmar — A responsabilidade é imensa. Somos o único hospital filantrópico de Foz do Iguaçu, com papel estratégico na média e alta complexidade. Nosso desafio diário é equilibrar qualidade assistencial e sustentabilidade financeira, enfim é a nossa missão social. Isso exige uma execução rigorosa do contrato com o SUS, sem ultrapassar o pactuado, e, ao mesmo tempo, excelência no atendimento a convênios e particulares — o que ajuda a manter viva nossa vocação filantrópica. Vivemos também um cenário de mudanças no mercado: há uma tendência de priorizar planos corporativos para reduzir sinistralidade, o que tem gerado debates em nível nacional. Além disso, o envelhecimento populacional e os hábitos de vida atuais pressionam os custos da saúde. Quando os planos encarecem, a adesão cai — e o SUS acaba sobrecarregado. O desafio está justamente em equilibrar todos esses fatores, garantindo acesso e sustentabilidade.
100fronteiras — A mudança de nome para Itamed alterou o quê na prática?
Gilmar — Foi uma transformação mais profunda do que parece. Unificamos as marcas — Hospital e Plano de Saúde Itamed — e simplificamos nossa comunicação com a sociedade. Antes, havia certa confusão entre razão social e nomes de unidades. Agora, a nova identidade reflete um momento de amadurecimento, aperfeiçoamento da gestão e fortalecimento da cultura institucional. É uma forma de falar de maneira mais direta e coerente com todos os nossos públicos.
100fronteiras — Obras e modernização: o que já está em curso?
Gilmar — Um dos projetos mais importantes é a nova Central de Material Esterilizado (CME), o verdadeiro “coração” dos instrumentais cirúrgicos. São 704 m² projetados, com investimento de R$ 18 milhões pela Itaipu Binacional e previsão de nove meses para conclusão. Essa modernização trará mais segurança, ergonomia, fluidez de processos e rastreabilidade — preparando o hospital para as próximas décadas de crescimento no volume da produção cirúrgica.
100fronteiras — Que outros projetos estão sendo preparados para o futuro?
Gilmar — Estamos avançando em governança clínica, protocolos, TI e transformação digital. Queremos reduzir o uso de papel, qualificar resultados e garantir que o paciente permaneça internado apenas o tempo necessário. Na oncologia, já oferecemos cuidado completo e agora buscamos viabilizar o PET-Scan, o último equipamento que falta para diagnósticos e tratamentos ainda mais precisos. Há também planos de revitalização do centro cirúrgico, da urgência e emergência, das UTIs e dos blocos de internação, além da substituição e incorporação de novos equipamentos. E olhamos além: já pensamos em habilitações futuras para transplantes — começando por fígado e rim, e, quem sabe, num segundo momento, coração. Tudo isso caminha junto com o desenvolvimento de lideranças e o cuidado com a segurança psicológica das nossas equipes. Porque, no fim das contas, cuidar de quem cuida é o primeiro passo para transformar a saúde.
100fronteiras — Qual lembrança você deseja deixar na sua gestão?
Gilmar — O Itamed existe para servir. Somos filantrópicos desde 1994: combinamos recursos privados (convênios/particulares), públicos (SUS) e de doações da sociedade. Consumir serviços de saúde aqui é um gesto também de responsabilidade social: fortalece o hospital, preserva empregos e, na prática, ajuda a ampliar o atendimento ao SUS. Queremos proximidade com empresários, profissionais liberais e lideranças — sociedade e hospital lado a lado para reter talentos, trazer mais especialidades e entregar cuidado de alta qualidade. Além disso, queremos criar uma cultura de dono — responsável, — em que cada colaborador se sinta parte e cuide do Itamed como seu. Uma instituição mais eficiente, produzindo mais com a mesma estrutura, dando segurança e melhorando continuamente a experiência do paciente. E um hospital aberto, transparente e conectado à comunidade que o sustenta.



