Pretende visitar a Argentina? Uma novidade financeira pode tornar sua viagem economicamente mais vantajosa. Turistas brasileiros que planejam fazer compras no país vizinho podem agora se beneficiar de uma nova cotação, mais baixa que a oficial, para pagamentos com cartões de débito, crédito ou pré-pagos internacionais.
No passado, os viajantes optavam por usar dinheiro em espécie ou o câmbio paralelo, como o dólar blue, considerado ilegal. A alternativa ao dinheiro físico era o cartão de crédito internacional, mas os custos associados ao seu uso, como a cotação oficial do dólar, o spread cambial e o IOF de 5,38%, faziam com que muitos turistas o evitassem. Com a nova regulamentação do governo argentino, no entanto, a situação está mudando.
Em um esforço para estimular a economia e atrair mais turistas, o governo argentino implementou o uso do dólar MEP (Mercado Eletrônico de Pagamentos) para cartões emitidos no exterior. Na cotação oficial, US$ 1 equivalia a 262,2 pesos argentinos. Com a nova cotação MEP, o mesmo valor do dólar pode chegar a valer cerca de 390 pesos argentinos. Isso representa um poder de compra significativamente maior para os turistas na Argentina.
O que é e como funciona o dólar MEP?
O dólar MEP é um tipo de cotação de dólar em funcionamento na Argentina. Há vários tipos ao redor do país:
- dólar oficial;
- dólar blue;
- dólar coldplay;
- dólar turismo
- dólar minorista;
- dólar solidário, entre outros.
A dinâmica do uso do dólar MEP é bastante simples. Por exemplo, ao realizar uma compra de 200 pesos em uma loja de Buenos Aires com um cartão de crédito internacional, o banco automaticamente converte essa compra de pesos para dólares usando a cotação do dólar MEP, e depois converte esses dólares para reais.
No caso de cartões de débito, emitidos por contas digitais globais como Wise, Nomad, Inter, C6, entre outras, é necessário fazer manualmente a conversão de real para dólar.
Uma vantagem significativa do uso de contas digitais internacionais é que a conversão de real para dólar incide apenas 1,1% de IOF, comparado aos 5,38% de IOF dos cartões de bancos tradicionais. Além disso, o spread cambial das empresas de contas digitais tende a ser menor, variando entre 0,5% e 2%.
Com a implementação do dólar MEP, os turistas agora têm acesso a uma cotação mais baixa, tornando a operação mais barata e incentivando ainda mais o uso de cartões internacionais. Isso, por sua vez, contribui para uma experiência de viagem mais segura e conveniente, reduzindo a necessidade de carregar grandes quantidades de dinheiro em espécie.
Por que o dólar MEP foi criado?
O dólar MEP foi criado para atrair turistas e captar recursos em moeda estrangeira, ao mesmo tempo em que minimiza a circulação do dólar blue – uma cotação ilegal altamente popular que, porém, traz riscos de falsificação e não beneficia o governo. “A dinâmica é perfeita para a Argentina porque atrai ainda mais o turista e a consequente captação de moeda estrangeira, que vai servir para financiar várias áreas, além das dívidas”, avalia João Victor Simões, da Blue3.
Durante uma crise econômica, o impacto no cotidiano dos argentinos é expressivo. Desemprego, redução de salários e poder de compra limitado levam à busca de alternativas para proteger o patrimônio. Com restrições governamentais à compra de dólares – só é possível adquirir US$ 200 por mês -, o cidadão comum tem recorrido ao dólar blue, inflacionando ainda mais a moeda.
No entanto, esse cenário é perigoso. Vinicius Gavioli, da Elev Investimentos, ressalta que “O turista precisa redobrar a atenção porque é grande a chance de notas falsificadas chegarem ao bolso”. Para contornar essa situação, o governo argentino viu no turismo uma solução parcial, com a introdução do dólar MEP, que permite aos turistas uma cotação mais atrativa ao usarem cartões de crédito, débito ou pré-pagos.
Com essa medida, o governo argentino espera incentivar mais turistas a visitar o país e gastar em dólar, beneficiando a economia local. A Argentina foi o segundo destino mais popular entre os brasileiros em 2022, de acordo com o relatório do Kayak, com uma alta de 139% nas buscas de viagens para Buenos Aires.
Essa demanda parece destinada a continuar crescendo, graças à significativa desvalorização do peso. “Buenos Aires sempre foi um destino popular. Mas a busca está ainda maior do que no ano passado especialmente pela desvalorização do peso. Embora a passagem possa estar mais cara que uma nacional pela alta demanda, o custo-benefício por lá durante a viagem é um atrativo e pode compensar esse valor do voo na visão de muitos turistas”, afirma Rodrigo Melo, do Viajala.
Desta forma, em meio à turbulência econômica, a Argentina está inovando em sua abordagem financeira para maximizar os benefícios do turismo e minimizar a influência do mercado paralelo de câmbio. O dólar MEP pode ser uma importante ferramenta neste esforço.
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