Você já sentiu como se alguma realização sua foi resultado de sorte? Você já se perguntou o quanto você precisa fazer para se sentir suficiente? Provavelmente sim, nós vivemos numa sociedade que exige uma produtividade inumana seja na vida pessoal ou profissional.
Se você é mulher, te cobram primeiro namorado, depois o casamento, depois o primeiro filho, depois o segundo filho. Se você é estudante, sempre dizem que você poderia ter feito mais. Se esforçado mais, tirado uma nota melhor, ter feito mais artigos, ter encontrado um estágio melhor.
Você respondeu sim para as duas perguntas, certo? Ok, agora me diz: esse sentimento é constante? Se for, talvez você esteja com a Síndrome do Impostor.
Veja abaixo a conversa que tivemos com Neiva Balestreri, psicóloga e terapeuta de casais e famílias da Clínica Balestra, sobre o assunto.
Doutora, o que é essa síndrome do impostor?
A Síndrome do Impostor é um padrão psicológico que leva uma pessoa a se sentir portadora de uma falsidade intelectual.
Ela carrega constantemente o medo de ser “desmascarada”, tem insegurança na própria capacidade e crença de ser uma fraude. Isso pode afetar sua autoestima, confiança e desempenho profissional e pessoal.
A síndrome pode ser alimentada por crenças negativas e autodepreciativas que a pessoa tem sobre si mesma, bem como por padrões de pensamento e comportamento que uma pessoa aprendeu ao longo da vida.
Quem geralmente desenvolve o Síndrome do Impostor?
Pode afetar qualquer pessoa, independentemente de sua idade, gênero ou experiência profissional. A forma como nos sentimos e nos posicionamos diante dos desafios da vida são reflexo das nossas vivencias anteriores.
Então depende do que aprendemos ao longo da vida?
Sim.
Podemos citar como exemplo aquelas pessoas que foram constantemente elogiadas ou rotuladas como “inteligentes” ou “talentosas” de forma exagerada desde a infância, crianças que, por mais que se esforçassem não conseguiam atender as expectativas – nunca eram boas o suficiente – ou por alguma lealdade familiar relacionada com a missão que recebeu da sua família de origem, entre outros fatores.
Sim! Um nível alto de cobrança na infância é uma das grandes causas dessa sensação, mas também vem do convívio social, principalmente entre os tímidos.
Esta dificuldade pode se intensificar em pessoas que trabalham em profissões competitivas ou que são constantemente expostas a comparações com outros profissionais talentosos.
Um caso específico que eu particularmente tenho notado são pessoas que morreram para se formar e não se encontraram competentes o suficiente para atuar na profissão. Pode comentar sobre isso?
Sim, é comum que pessoas recém-formadas se sintam inseguras e desconfiem de sua capacidade de efetivamente desempenhar suas funções profissionais. Essa insegurança pode ser agravada pelo fato de que muitos recém-formados entram no mercado de trabalho com pouca experiência prática, o que pode aumentar a sensação de estar “fingindo” ou “enganando” os outros.
Essa insegurança exagerada perante as coisas para as quais o indivíduo é qualificado e está preparado para exercer, não deve ser confundida com a insegurança natural no início de uma nova atividade profissional ou acadêmica.
Como identificar que a insegurança que estou sentindo pode ser a Síndrome do Impostor?
A repetição do padrão de insegurança, causando grande desgaste emocional, impedindo ou dificultando a realização das atividades desejadas – pode ser um sinal.
Os principais sintomas incluem sentimento de insegurança e inadequação, medo de ser exposto como uma fraude, tentativa de minimizar ou desvalorizar conquistas e autocrítica excessiva.
Uma característica é a tendência à autossabotagem. Somada ao sentimento de não pertencimento, procrastinação, autodepreciação, autocrítica excessiva e comparação. Porém, É necessário quebrar o ciclo. Perceber:
- Você recebe bem elogios?
- Você sabe quais são seus pontos fortes?
- Você se coloca como inferior o tempo todo?
O melhor sempre é procurar ajuda, mas você tem algumas dicas para quem não pode fazer terapia?
- Uma pessoa que se relaciona bem com a sua história entende que seu caminho de desenvolvimento não é uma farsa, é real e diz respeito aos seus esforços para crescer.
- Reconheça seus sentimentos e pensamentos negativos.
- Desafie seus pensamentos autocríticos, questionando se eles são realmente precisos ou se estão baseados em uma visão distorcida de si mesmo.
- Converse com amigos, familiares ou colegas de trabalho em quem confie e que possam oferecer apoio.
- Tente manter uma perspectiva equilibrada sobre suas ações, reconhecendo suas conquistas.
- Pratique a autocompaixão: em vez de ser autocrítico ou se culpar por seus sentimentos, tente ser gentil e compassivo consigo mesmo.
- Identifique seus pontos fortes e áreas de desenvolvimento: trabalhe o que precisa melhorar para se sentir mais confiante.
- Se o problema persistir busque ajuda especializada.