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Nos últimos anos, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ficou muito popular na internet. Cada vez mais as pessoas estão sendo diagnosticadas tardiamente e falando sobre suas experiências. Ainda que isso seja positivo, também gera uma massa de pessoas que se autodiagnosticam baseadas em alguns sintomas comuns do TDAH — como dificuldade para ficar parado ou ser facilmente distraído.
Mesmo pessoas bem-intencionadas frequentemente usam expressões genéricas e frases clichês ao tentar apoiar alguém com TDAH — frases que podem causar mais mal do que bem.
Em outras palavras, os sintomas do TDAH são frequentemente muito mais intensos, a ponto de causarem angústia e interferirem na capacidade de uma pessoa de levar sua vida diária. Como nem todos entendem o TDAH e as dificuldades que o acompanham, pessoas sem a condição podem dizer coisas que acham úteis, mas que na verdade não são. E, no processo, podem reforçar mitos comuns sobre o transtorno, como a noção de que pessoas com TDAH são preguiçosas ou simplesmente precisam se esforçar mais.
Aqui estão quatro frases para evitar dizer a (ou sobre) alguém com TDAH.
“Hoje em dia todo mundo tem TDAH”
O diagnóstico do TDAH não é fácil. A pessoa passa por uma bateria enorme de testes com um neuropsicólogo que avalia além dos sintomas, quanto tempo eles persistem e como isso influencia na vida do paciente.
Então fazer declarações como essa é muito prejudicial, porque você está duvidando e criticando o diagnóstico que a pessoa recebeu.
Você pode ouvir pessoas dizerem que “somos rápidos demais para diagnosticar uma criança que é simplesmente ativa e enérgica”. Os pais dos mais de seis milhões de crianças que receberam diagnóstico de TDAH provavelmente discordariam; os sintomas de seus filhos são reais.
Um diagnóstico adequado de TDAH pode ser fundamental para obter ajuda para seu ente querido. Se não for diagnosticado, o TDAH pode levar a problemas acadêmicos, comportamentais, emocionais, sociais e profissionais mais tarde na vida.
“Todo mundo não é um pouco TDAH?”
Muito parecida com a anterior, esta frase pode ser ofensiva por várias razões. Descrever as experiências de vida de todos como “um pouco TDAH” implica que você não entende as sérias dificuldades que a pessoa enfrenta todos os dias.
O TDAH é um diagnóstico clínico listado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o guia autoritativo usado pelos profissionais de saúde mental. Para que alguém seja oficialmente diagnosticado com TDAH, seus sintomas precisam atender aos critérios listados no DSM.
Os subtipos de TDAH e seus sintomas, conforme o DSM, incluem:
Predominantemente Hiperativo/Impulsivo: Isso envolve inquietação, estar constantemente “em movimento” ou ser incapaz de ficar parado, muitas vezes a um grau que as pessoas ao redor acham cansativo, além de interromper os outros, ter dificuldade em esperar a sua vez e agir sem considerar as possíveis consequências primeiro.
Predominantemente Desatento: Isso pode incluir comportamentos como cometer erros descuidados na escola ou no trabalho, pouca atenção aos detalhes e dificuldade em completar tarefas diárias.
Combinado: Isso envolve uma mistura de sintomas hiperativos/impulsivos e desatentos.
Embora você possa ter boas intenções, dizer algo como “todo mundo é um pouco TDAH” minimiza as dificuldades muito reais que as pessoas com TDAH enfrentam em suas vidas diárias.
Isso pode fazer com que alguém com TDAH se sinta invisível e os faça sentir que deveriam ser capazes de lidar com tarefas cotidianas que são geralmente mais fáceis para indivíduos neurotípicos (ou seja, pessoas sem TDAH ou outras condições neurodesenvolvimentais, como transtorno do espectro autista).
“Ninguém precisa saber que você tem TDAH”
Foto: Pexels
Embora seja verdade que as pessoas não precisam divulgar seu diagnóstico de TDAH a ninguém, essa é uma decisão que cabe a elas, não a você.
Essa afirmação é particularmente prejudicial, pois sugere que a pessoa deve se envergonhar de seu TDAH e que deve esconder e se constranger por essa parte muito importante de quem ela é.
A preocupação, entretanto, é fudamentada. Afinal, depois de contar a alguém sobre o diagnóstico de TDAH, a pessoa não pode “desdizer”. Ainda há equívocos e preconceitos contra o TDAH, e nem todos ficarão felizes em saber que você tem TDAH.
Em um mundo ideal, quando alguém conta que tem TDAH, a pessoa que recebe a notícia diria: “Fico muito feliz em saber que você encontrou a causa raiz de suas dificuldades. Isso deve ser incrível. Agora você pode começar se cuidar! Avise se eu puder ajudar de alguma forma”
Na realidade, o que geralmente acontece é que as pessoas questionam o diagnóstico, o desconsideram ou dão opiniões sobre a medicação. Isso pode a pessoa se sentir desvalorizado em vez de apoiado.
Porém, procure aconselhar a pessoa de forma gentil, sem fazer com que ela tenha vergonha do diagnóstico.
“Você só se concentra no que quer”
Foto: Pexels
Um sintoma característico do transtorno é a dificuldade em se concentrar em uma tarefa. No entanto, algumas pessoas com TDAH também experimentam o que é chamado de “hiperfoco”, ou seja, prestar tanta atenção a uma atividade que podem não perceber quanto tempo se passou, ou que seu telefone está tocando ou alguém está chamando seu nome.
Isso geralmente acontece com atividades que a pessoa considera interessantes ou emocionantes. “No TDAH, o cérebro se distrai mais facilmente e luta para regular a atenção, principalmente para tarefas não preferenciais”, explica Jaclyn Halpern, PsyD, psicóloga licenciada e diretora do Programa SOAR de Psicoterapia e Testes na Washington Behavioral Medicine Associates em Chevy Chase, Maryland.
“Indivíduos com TDAH precisam de mais um ‘estímulo’ para se sentirem motivados e focados. Esse estímulo geralmente ocorre quando se envolvem em tópicos ou atividades de interesse.”
Pessoas com TDAH podem achar tarefas menos empolgantes mais difíceis de prestar atenção. Isso porque essas tarefas exigem mais habilidades de funcionamento executivo, como memória de trabalho, o que pode ser desafiador para elas.
Dizer a alguém que só se concentra no que quer, implica que eles estão escolhendo não se concentrar em certas tarefas, o que não é verdade. Além disso, as pessoas com TDAH não querem necessariamente hiperfocar. “Isso pode atrapalhar seu dia e prejudicar sua produtividade e relacionamentos no processo”, explica ela.