Um novo estudo brasileiro oferece um panorama intrigante sobre o uso de medicamentos para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A pesquisa indica que tanto o uso excessivo quanto a falta de tratamento ocorrem simultaneamente. No entanto, surpreendentemente, a falta de tratamento é mais comum.
Publicado na Neuroscience & Biobehavioral Reviews, a análise sistemática e meta-análise dos dados levou à descoberta de duas tendências contrastantes no tratamento do TDAH. Por um lado, observou-se o uso excessivo ou inadequado de medicamentos entre jovens não diagnosticados. Por outro lado, um grupo de crianças e adolescentes que receberam o diagnóstico e que necessitam de medicamento, enfrenta a falta de tratamento.
Os pesquisadores descobriram que a submedicação é mais frequente, com apenas 19,1% dos jovens diagnosticados recebendo tratamento adequado. Por outro lado, cerca de 1% dos indivíduos não diagnosticados estavam tomando medicamentos. Nos Estados Unidos, a estimativa é de que, para cada jovem que utiliza medicamentos para TDAH sem um diagnóstico formal, existem três pacientes diagnosticados que não estão sendo medicados.
Veja também: O que não falar quando alguém te conta que tem TDAH
Luis Augusto Rohde, autor principal do estudo e professor titular de psiquiatria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, expressou a importância da descoberta. Ele afirmou: “Pela primeira vez, conseguimos estimar que, em diversas regiões do mundo, o subtratamento do TDAH com medicações é um problema mais frequente do que o uso inadequado dessas medicações em crianças e adolescentes que não têm o transtorno.”
O estudo, que avaliou mais de 25 mil registros globais e se concentrou em 36 estudos de dez países, chama a atenção para a necessidade de uma atenção maior para essa questão. O subtratamento e o tratamento inadequado do TDAH podem ter implicações significativas, incluindo impactos na educação, custos para o sistema de saúde, produtividade e potenciais efeitos colaterais.
Esses achados sublinham a necessidade de políticas públicas para melhorar o cuidado dos pacientes com TDAH. Também abre espaço para novas discussões sobre os benefícios e limitações dos medicamentos utilizados no tratamento desse transtorno, que afeta de 5% a 7% de todas as crianças e adolescentes e 2,5% dos adultos em todo o mundo.
O TDAH é um transtorno que apresenta como principais sintomas a falta de atenção, a agitação e a impulsividade. A pesquisa sugere que uma abordagem mais equilibrada e consciente no tratamento deste transtorno é necessária para garantir o bem-estar de todos os afetados.
Relacionado