Bichoterapia, pet terapia, zooterapia ou cinoterapia, terapia assistida por animais (TAA). provavelmente você já deve ter ouvido um ou mais destes termos, mas a verdade é que todos fazem referência à mesma definição: à intervenção assistida por animais (IAA).

“Eu não queria ter um cachorro, mas minha filha insistiu, e era ela quem estava morrendo”. Assim começa o ensaio de Jacqueline Dooley, “How I Became a Dog Person“, publicado na plataforma Medium.

No ensaio, Jacqueline conta sua jornada para encontrar o cachorrinho certo e como foi a adaptação da família com o animalzinho. Sua filha estava em tratamento de radiação e Roo, um poodlee toy, ajudou nessa fase tão difícil e cansativa. Logo Jacqueline percebeu que Roo viveria mais do que Ana.

“Ana morreu um ano e três semanas depois de trazermos o Roo para casa. De repente, ele se tornou minha razão para levantar da cama de manhã.”

Embora seja um desses casos extremos em que o paciente está num estágio terminal, é uma boa leitura para quem duvida do poder dos animais de curar as pessoas. Roo não curou o câncer de Ana, mas fez seu ultimo ano de vida ser mais feliz e ajudou Jacqueline no processo de luto.

Esse é apenas um exemplo de como animais podem ajudar a saúde humana, seja física ou emocional. Vamos falar um pouco mais sobre Terapia Assistida por Animais a seguir:

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Como descobriram que animais podem ajudar no tratamento?

Uma história inspiradora e cheia de ternura teve início na década de 1960 no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro, quando a psiquiatra junguiana Nise da Silveira descobriu o poder terapêutico dos animais no tratamento de pacientes psiquiátricos.

O marco desse caminho transformador foi o encontro inesperado entre uma cadelinha abandonada e faminta e a dedicada médica. Percebendo o interesse de um dos pacientes pela pequena criatura, a Dra. Nise não hesitou em entregá-la ao paciente, que a batizou de Caralâmpia, inspirado por um personagem literário de Graciliano Ramos.

A partir desse momento, Nise da Silveira testemunhou a incrível melhora que a convivência com animais trazia aos pacientes. Um exemplo é o caso de Abelardo, um homem conhecido por sua força e temperamento difícil, que, ao cuidar de cães e gatos, adquiriu uma postura mais tranquila e equilibrada. Outra história marcante é a de Djanira, que, através da interação com animais, redescobriu sua capacidade criativa como pianista.

Graças ao trabalho pioneiro de Nise da Silveira, a zooterapia ganhou reconhecimento e vem sendo cada vez mais adotada ao redor do mundo. Essa abordagem gentil e acolhedora tem transformado vidas e mostrado que a conexão entre seres humanos e animais é capaz de promover cura e bem-estar.

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O que é e como funciona?

Zooterapia é uma das práticas que vêm sendo utilizadas para amenizar as dores desses pacientes e pessoas envolvidas no tratamento. Ela envolve o contato do doente com animais, em busca do processo de melhora ou cura. O procedimento é acompanhado por profissionais da área da saúde.

De acordo com a International Association of Human-Animal Interaction Organization (IAHAIO), trata-se de uma intervenção estruturada e orientada por objetivos que intencionalmente inclui ou incorpora animais na saúde, educação e serviços com o propósito de trazer benefícios terapêuticos em humanos. O termo engloba o que se conhece por Terapia Assistida por Animais, Educação Assistida por Animais, Atividade Assistida por Animais e Treinamento Assistido por Animais.

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Qual animal escolher?

Bichos como cachorros, gatos e até cavalos, podem atuar como co-terapeutas de pacientes psiquiátricos.

Existem critérios que precisam ser levados em conta quando se escolhe um animal para a terapia. O médico e a organização irão trabalhar para encontrar o tutor e o animal que se encaixarem melhor no quadro de saúde do paciente. Para realizar a zooterapia, eles vão levar em conta o tamanho, a idade, o tipo, a raça e o comportamento natural da espécie.

Quem determina quais são as atividades que serão realizadas na terapia animal é o profissional de saúde responsável. Ele irá guiar o tutor sobre as atitudes corretas e o tempo da sessão. Algumas vezes as atividades se resumem a ações simples como fazer carinho ou brincar com o animal em questão.

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Quem pode se beneficiar?

Os benefícios dessa terapia são incontáveis.

A zooterapia oferece entretenimento, oportunidades de motivação, melhora a condição emocional e cognitiva dos envolvidos, diminui o cortisol e, consequentemente, o estresse; aumenta a serotonina, endorfina e ocitocina, conhecidos como hormônios da felicidade.

Segundo a psicóloga Karina Schutz, especialista em terapia cognitivo-comportamental que desenvolve IAA com idosos institucionalizados e crianças do espectro autista, a terapia tem um objetivo claro e pode ser quantificada.

“É possível, assim, avaliar o desenvolvimento do paciente antes, durante e depois do processo terapêutico. A terapia assistida por animais requer o treinamento do bicho e a supervisão de um profissional da saúde, como um médico, psicólogo, enfermeiro, dentista, etc. É quando, por exemplo, um fisioterapeuta trabalha com autistas em clínicas e utiliza o animal para objetivos específicos: pede para o paciente escová-lo, para fazer um certo movimento de braço ou caminhar”, explica a especialista.

Seguindo essa mesma linha, há também a Atividade Assistida por Animais (AAA), considerada uma atividade recreativa com resultados terapêuticos, sem gerar uma análise dos pacientes, histórico e perfil. A AAA envolve visitação, recreação e distração por meio do contato dos animais com pessoas. É desenvolvida por profissionais treinados e/ou com proprietários ou “condutores”, que levam seus pets às instituições para visitas semanalmente ou esporadicamente, sem um objetivo claro.

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Existem riscos? 

A zooterapia não é para todos. Nem todas as pessoas vão se dar bem com esse tipo de tratamento. Isso não quer dizer que está tudo perdido. Afinal, a terapia animal é apenas algo complementar aos cuidados principais. Existem diversos outros métodos que podem ser escolhidos, como a fisioterapia. 

Isso porque, alguns indivíduos apresentam alergias aos animais, ou apenas não se dão muito bem com o método. Às vezes, a pessoa pode se tornar muito próxima ao animal, o que também pode prejudicar o tratamento. É necessário tomar cuidado e não deixar de falar quando algo se tornar incômodo na terapia animal. 

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