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Outubro é o mês de conscientização sobre o câncer de mama, uma realidade enfrentada por milhares de mulheres ao redor do mundo. Além dos desafios físicos, o câncer de mama pode ter um impacto profundo na vida sexual das mulheres, afetando sua autoestima, amor próprio e a maneira como se relacionam com seus corpos.
A Terapia Sexual, nos convida a considerar não apenas a pessoa como um indivíduo isolado, mas como parte de sistemas interconectados – família, sociedade e cultura. O câncer de mama não afeta somente a mulher, mas reverbera nessas esferas, influenciando o relacionamento conjugal, e a forma como ela mesma se vê e se sente enquanto mulher e parceira.
A mastectomia, muitas vezes necessária no tratamento, é um momento crucial. A mulher se confronta com a perda física e emocional de uma parte de si mesma. A imagem corporal é redefinida, e a sexualidade é reavaliada. A terapia oferece um espaço para explorar esses sentimentos dolorosos, e uma oportunidade de reconstruir uma nova identidade que integre a experiência do câncer.
Mudanças que chegam com o câncer de mama
A sexualidade feminina e suas respostas podem ser afetadas diretamente pelo diagnóstico de câncer de mama. Esse impacto pode se manter por vários anos, mesmo depois do sucesso do tratamento, e pode estar associado a sérios transtornos físicos e emocionais.
Mudanças físicas, como disfunções sexuais, são decorrentes da quimioterapia, da indução química da menopausa, do uso de medicação e da cirurgia. Podem também ocorrer mudanças emocionais na sexualidade, incluindo medo da perda da fertilidade, imagem negativa do corpo, sensação de menos atratividade sexual, perda da feminilidade, depressão, ansiedade e alterações do senso de sexualidade de si própria.
A mama é a representação do feminino e, dentro de uma espiral de complexidade, seu acometimento expõe as pacientes a uma série de questões: seu posicionamento como mulher atraente e feminina ou a mãe que amamenta; medo da recorrência; sintomas físicos, como fadiga, dor, alterações da imagem corporal, ansiedade relacionada com o tratamento; pensamentos intrusivos a respeito da doença, relações conjugais, sentimentos de vulnerabilidade e elaborações existenciais, incluindo a questão da morte.
O Câncer de mama está associado à disfunção sexual – explicado pela interação de mecanismos biológicos e psicológicos – e não podem ser discutidos separadamente.
A presença de disfunção sexual em mulheres com diagnóstico de câncer de mama, como ausência de resposta de excitação, lubrificação, orgasmo, desejo e prazer, é decorrente do tratamento quimioterapêutico, de induções químicas da menopausa e de cirurgias, até a retirada da mama. Os problemas de lubrificação vaginal são mais acentuados nas mulheres que recebem quimioterapia. O tratamento sistêmico do câncer de mama, possível causa da menopausa precoce, pode ter mais impacto na disfunção sexual, do que a perda da mama.
Entre esses desconfortos ainda se destacam a secura vaginal e a dispareunia.
Tratamento multidisciplinar
E necessária uma avaliação multidisciplinar pois a mama está inserida diretamente no contexto de resposta sexual feminina. Ao ser proposto o tratamento de câncer de mama é necessário dispor de suporte psicossexual para que as pacientes se sintam amparadas e discutam as possíveis mudanças sexuais após o diagnóstico e o tratamento.
A terapia auxilia nessa caminhada, fornece ferramentas para fortalecer a confiança e aceitar as mudanças físicas. O apoio psicológico ajuda a transformar o trauma em crescimento, fortalecendo a resiliência emocional e a capacidade de se adaptar.
A terapia emerge como uma luz, oferecendo não apenas suporte emocional, mas também a chance de redescobrir a força interior e a beleza, permitindo que cada mulher reconstrua seu caminho com confiança e amor próprio.
Referência:
Manual SOGIMIG de Sexologia
por Carlos Henrique Mascarenhas Silva, Gerson Pereira Lopes e Fabiene Bernardes Castro Vale
Dra. Neiva Balestreri é psicóloga, terapeuta de casais e famílias e também trabalha com sexualidade humana com habilitação em terapia sexual. Neiva faz parte da SBRASH – Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Desenvolve seu trabalho na clínica Balestra, especializada na saúde integral dos pacientes.