Há 30 anos, cheguei à região das Três Fronteiras com sentimentos mistos. Por que sentimentos mistos? Meu marido e eu tínhamos decidido investir no Brasil, arriscando nossa aposentadoria para construir um parque de aves. Mas antes de começarmos essa grande aventura, recebemos muitas informações desencorajadoras. Rapidamente aprendi que essas informações não eram verdadeiras.

Conseguimos as licenças, de acordo com a nossa impaciência típica de gringos, talvez demoradamente, mas conseguimos. Compreendi que, em um processo burocrático, tentar abreviar etapas significa perder tempo.

Nestas três décadas, aprendi muitas outras coisas. Descobri que os ‘moinhos da lei’ moem lentamente, mas moem. Aceitei que sou alemã com coração iguaçuense. Quem abriu meus olhos para esta realidade foi minha equipe do Parque das Aves, que cresceu de 25 para 230 pessoas durante este período.

Observei e acompanhei a vida dessas pessoas, aprendendo sobre suas necessidades diárias e seus sonhos. No início, a maioria era jovem e vinha de famílias humildes, com muitos irmãos. Saíram de ambientes pobres, por vezes rurais no Paraguai ou nas favelas, onde o crime era uma constante e a principal fonte de renda da família era a ‘muamba’.

O nível educacional deles variavam: alguns tinham o ensino fundamental, outros mal sabiam escrever. Contudo, chegavam para trabalhar pontualmente, bem-arrumados, e saíam à tarde para frequentar aulas de educação básica, inglês, marketing, informática, etc. Hoje, a maioria tem um ou dois filhos que já estão se formando em áreas como informática, marketing, medicina e engenharia.

Com o tempo, a aparência da cidade melhorou significativamente; tornou-se mais organizada, limpa e desenvolvida, com novos bairros surgindo rapidamente e um forte crescimento no setor de construção. E nossos países vizinhos? A região trinacional está se desenvolvendo em sintonia?

Um belo dia, quase 30 anos após minha chegada, decidi fazer uma pequena turnê pelo nosso vibrante e belo ‘Triângulo das Três Fronteiras’. Planejei me divertir e confirmar a facilidade de transição entre os três países. Com meu Toyota de 17 anos e 240.000 km, saí do Parque das Aves e passei pelas aduanas brasileira e argentina sem problemas.

A paisagem urbana em Puerto Iguazú estava em processo de renovação. Cruzei o belíssimo Rio Paraná de balsa, após superar algumas burocracias na alfândega paraguaia, e constatei que o marco do lado paraguaio é o mais belo dos três. Percorri Puerto Franco e cheguei a Ciudad del Este, onde nem mesmo o trânsito caótico abalou meu bom humor.

Voltei para casa com um sentimento de gratidão e otimismo pelo futuro dessa terra encantadora das Três Fronteiras. Sem considerar as falhas típicas da natureza humana, essa terra mágica tem muito a oferecer: o encontro de dois grandes rios, as pontes e uma pequena balsa que conectam os países, a beleza natural da Mata Atlântica, a inteligência humana, a diversidade cultural e o poder transformador da educação.

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