No dia 11 de julho, o jornal local H2Foz publicou uma matéria com o seguinte título: “Cidade paraguaia da fronteira proíbe publicidade em português”. Inicialmente, o título chama a atenção por se tratar de uma cidade fronteiriça, onde as línguas circulam naturalmente.

Ao ler a notícia, observamos que o município fronteiriço de Mbaracayú, localizado ao norte do departamento de Alto Paraná e com uma significativa população brasileira, decidiu proibir o uso do português nos meios de comunicação, incluindo publicidade, rádio e TV.

Num primeiro momento, parece contraditório proibir o uso de uma língua numa cidade com uma quantidade expressiva de habitantes que a falam. Em segundo lugar, ao analisar a notícia, vemos que o motivo por trás dessa decisão é “preservar a cultura e tradições do país” e porque “todo o processo de ensino é afetado quando o que se vê e escuta nas rádios é em outra língua”, de acordo com as declarações da prefeita da cidade.

Nos comentários de diferentes internautas, é possível ver que muitos comemoram a medida, pois consideram que estão, de fato, preservando a língua e as tradições. Neste pequeno texto, gostaria de debater, mais uma vez, como fizemos ao longo dos nossos textos mensais, os imaginários que criamos em relação às línguas e, principalmente, ao contato entre essas línguas, neste caso, o espanhol e o português.

É importante lembrar que nenhuma língua “atrapalha” o aprendizado. As línguas e as culturas estão relacionadas com nossa identidade, sendo impossível separar a língua daquilo que nos constitui como indivíduos. As línguas nos enriquecem e, na fronteira, esse contato nos possibilita aprender diversas línguas, costumes, culturas, etc.

Se ouvirmos rádio com anúncios ou programas em espanhol, caso estejamos pensando nisso a partir do ponto de vista de Foz do Iguaçu, estaremos nos familiarizando com a língua, essa língua irmã e fronteiriça, aprendendo palavras e até mesmo nos arriscando a falar algumas. Lembro-me de que, antes de chegar ao Brasil, assistia a muitas novelas em português para me familiarizar com a língua, aprender costumes e hábitos, o que me permitiu ter um contato mais próximo quando cheguei pela primeira vez ao Brasil.

Se eu vejo ou leio um cartaz publicitário em espanhol ou guarani aqui nesta fronteira, isso me possibilitaria me aproximar da língua que circula constantemente na fronteira. E isso nos enriquece, é a força das línguas que nos permite comunicar, fazer negócios e reconhecer o outro. Quando proíbo o uso de uma língua, estou anulando a identidade das pessoas que a falam.

Todas as línguas são importantes, o fato de se misturarem, se cruzarem, de se inventarem palavras entre elas, não prejudica o aprendizado de nenhuma delas, pelo contrário, fortalece num mundo cada vez mais plurilíngue e pluricultural.

Minhas línguas fazem parte do que eu sou, fazem parte do que somos, e todas as línguas que circulam na fronteira fazem parte da paisagem linguística da cidade. Nada é mais bonito do que uma paisagem em muitas línguas, não é mesmo?