É verdade que os historiadores apreciam datas comemorativas. A data em si carrega certa importância, mas analisar o contexto é sempre mais instigante. Comemorar uma data, como a emancipação política de Foz do Iguaçu (10/06/1914), é também um excelente momento para refletir sobre o passado, o presente e projetar perspectivas para o futuro.

Permita-me convidá-lo a refletir um pouco sobre o passado. Como chegamos até aqui? Em termos de história local, só consigo aventurar uma explicação se recuarmos 134 anos (fundação da Colônia Militar) e se dividirmos o tempo mais ou menos ao meio entre 1889 e 2023. Ou seja: a história de Foz do Iguaçu antes e depois da Ponte da Amizade (vou considerar 1956 – lançamento da Pedra Fundamental no Hotel Cassino).

O período “antes da ponte” engloba os 67 anos que vão de 1889 até 1956. Evidentemente, muita coisa mudou na cidade desde a fundação da Colônia e a criação do Parque Nacional do Iguaçu (PNI, 1939). Aliás, Foz do Iguaçu só se tornou “patrimônio” de fato após o estabelecimento do PNI. Obras públicas na cidade praticamente começaram em 1937, dentro do mesmo contexto que trouxe o PNI à cidade. As obras federais de infraestrutura do Parque Nacional possuíam mais recursos (para investir em Foz) do que o governo estadual tinha para investir em todo o Paraná em 1941, por exemplo.

Resultado: nos anos 1950, Foz do Iguaçu era uma cidade que saltou de cerca de 300 habitantes (1889) para quase 3000. No entanto, o maior boom populacional ainda seria observado com a construção da Ponte da Amizade. Em 1960, de acordo com o IBGE, a população chegou a mais de 28.000 pessoas. Portanto, após a Ponte da Amizade, a população cresceu em grandes saltos (em 1980 passou dos 130 mil).

O período “depois da ponte” abrange a maioria das transformações que conhecemos hoje. De 1956 até 2023, são apenas 67 anos. Portanto, a população de quase 3000 nos anos 1950 chegou a mais de 250 mil em 2000. E ainda não estou considerando o lado paraguaio da fronteira que no mesmo período passou de 15 casas para mais de 300 mil habitantes.

Assim, ao recordar os 109 anos de emancipação, estou convencido de que a divisão “antes e depois da ponte” nos auxilia a refletir sobre o passado de Foz do Iguaçu. A característica central encontrada nessa divisão: nos 67 anos antes da ponte, o crescimento populacional foi lento e a economia não muito dinâmica; nos 67 anos após a ponte, o crescimento populacional foi explosivo e a economia extremamente dinâmica.

Intencionalmente, deixei para mencionar a Itaipu Binacional apenas agora. Evidentemente, a construção da usina transformou toda a região da Tríplice Fronteira. Também não podemos ignorar o comércio internacional de Ciudad del Este que, dentre outras consequências, atraiu imigrantes do Oriente Médio e Ásia. Tanto Itaipu quanto Ciudad del Este merecem análises particulares, mas se inserem na cronologia “depois da ponte”.

A propósito, a foto é de “antes da ponte”. Quando Foz do Iguaçu tinha o porto sobre o Rio Paraná como seu principal acesso e seus primeiros prédios públicos: prefeitura/fórum, delegacia, hotel, escola e Banco do Brasil. E a maioria de nós chegou ou nasceu em Foz do Iguaçu nos últimos 67 anos (portanto, depois da ponte).

Centrinho Histórico - Foz do Iguaçu