Foz do iguaçu é uma cidade bela, sem igual! Somos agraciados pela grande quantidade de mata que nos rodeia! Além do Parque Nacional do Iguaçu, o maior expoente da preservação da Mata Atlântica da região, a área urbana de Foz contém um verdadeiro tesouro, grandes fragmentos de mata, com uma maravilhosa biodiversidade e reservas de água.
Mas parece que há uma deficiência na nossa relação com essas áreas, talvez pelas circunstâncias. Se analisarmos por cima algumas situações, ficaremos no mínimo, inquietos.
O Batalhão do Exército guarda e preserva em seu interior o maior fragmento de floresta em pleno centro da cidade. Uma verdadeira benção, pois há uns 40 anos, quase que todo esse terreno era desmatado. Acontece que, cercado e sem acesso, não temos o contato merecido a essa área, que por outro lado não está preparada para receber uma população que não é acostumada com a cultura da preservação.
Qual o pior fator dessa conta? Desconhecimento de que essas áreas são ricas, e quando preservadas, nos trarão grandes benefícios! Seria a área do Batalhão um possível parque urbano de referência no nosso país?
A distância do cotidiano nas áreas verdes e bosques da nossa cidade é mais um sintoma que se revela em outras ações que colocam o Meio Ambiente em risco por aqui, mais um motivo de vergonha para quem ostenta o título das 7 Maravilhas do Mundo Natural!
Na semana retrasada, mais precisamente no feriado de Tiradentes, um escândalo ambiental chamou a atenção da comunidade. O Bosque dos Macacos, na região do Jardim Ipê, teve parte de sua área desmatada a pretexto de ser uma área particular que estaria reservada para a construção de casas.
Nos dias seguintes, moradores filmaram macacos andando sobre a terra que ficou exposta,
desnorteados com tamanha devastação.
Talvez a área desmatada não seja tão grande assim, ao menos ao nosso olhar, geralmente egoísta e dominador da natureza. Talvez a área tivesse mesmo que ser desmatada, já que pertence a particulares. Talvez nem devêssemos tocar nesse assunto, já que são apenas algumas árvores que estão atrapalhando a expansão do bairro. Talvez no futuro vamos lembrar de quando isso aqui era só mato, como dizem os mais antigos…

Esquisito mesmo é se chocar por um fato desses quando existem órgãos públicos que foram criados com o intuito de garantir a preservação da natureza!
Adoraria explicar e entender melhor a estrutura das leis e das políticas públicas voltadas ao Meio Ambiente, como o Plano Municipal de Preservação e Recuperação da Mata Atlântica, lançado em 2020, e que define a área do Bosque dos Macacos como de interesse público e a reconhece como de grande valia no que diz respeito a sua biodiversidade, uma Área de Preservação Permanente!
Se é reconhecida dessa forma, algumas questões devem ser respondidas: Qual é a delimitação da área pública em relação a área que é particular?
No Decreto Municipal 26.117/2018 “Fica destinado ao Município de Foz do Iguaçu para manutenção de Bosque Natural (Área Verde), o Lote nº (06.5.16.34) 0501, com superfície de 5.011,58m² (cinco mil, onze metros e cinquenta e oito decímetros quadrados), a área do Bosque dos Macacos, na constituição do loteamento Jardim Marcely.
A Natureza não conhece áreas e medidas. Vale ressaltar que a área desmatada era densa e continha árvores muito altas, que podem ser vistas de longe e que nasceram ali há bastante tempo!
Estaria então os planos do município de acordo com esse desmatamento? Não sei até que ponto, pois ao que parece, o parecer favorável veio lá de Curitiba, de gente que nem pisa por aqui.
A dimensão disso? Ficaremos sabendo em breve, pois esse fato comoveu muita gente que se
preocupa com o Meio Ambiente na nossa cidade!

O Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu ingressou com uma denúncia no Ministério Público para apurar essa situação, assim como outros cidadãos.
A imprensa local também noticiou. Vereadores da Comissão de Meio Ambiente da Câmara
Municipal solicitaram do Executivo explicações e documentações a respeito desse assunto.
Muitas pessoas aderiram a campanhas digitais pedindo: Salve o Bosque dos Macacos!
Isso que ainda nem falamos neles!
O professor Lucas Aguiar que já deu aula na UNILA, e estuda os ilustres habitantes desse pequeno fragmento de mata me deu uma forcinha para entender como são esses macacos. Trata-se do macaco-prego, identificado cientificamente como Sapajus sp (sp quando a espécie não é identificada). Isso se refere ao fato de que os macacos desse bosque estão em uma área de ocorrência de outra variação do macaco-prego, o Sapajus nigritus de pelagem escura.
Esse fato leva a uma hipótese de que esses animais foram introduzidos nesse fragmento de mata, e as pesquisas sugerem que isso tenha ocorrido há cerca de 40 a 50 anos. A data coincide com os fatos que fizeram nossa cidade crescer e se expandir. Comércio pulsante entre Brasil e Paraguai e a construção e operação de Itaipu.
Sugere-se ainda que o tráfico animal, mais intenso há um tempo atrás e manejo de animais resgatados do enchimento do lago de Itaipu possam ter contribuído para a introdução desses macacos no que conhecemos hoje como Bosque dos Macacos.
A pesquisa é vasta e reconhecida internacionalmente. Um subsídio de grande valor para que o município e seus munícipes entendam e ajam e prol da preservação da natureza.
Há muito que se discutir em torno desse tema, mas precisamos avançar no esclarecimento dos fatos para que coletivamente possamos amadurecer nas ideias e nos atos que vão garantir o Meio Ambiente saudável e equilibrado para todos.
Nesse momento precisamos entender a dimensão do que é esse dano ao Bosque dos Macacos, e a partir dai, preservar mais ainda nossos fragmentos de matas. Quem sabe mudando a consciência da população e do poder público, futuramente áreas como o Batalhão, a mata da Vila A, a mata da Vila Paraguaia, o Bosque dos Macacos e tantas outras áreas de preservação não venham integrar nossas vidas em forma de parques e lugares prazerosos de lazer?