Recentemente presenciei, em um consultório médico, uma conversa entre uma paciente que falava espanhol, o amigo ou companheiro que falava guarani misturando com o espanhol e a secretária do médico que falava em português.
Fiz o registro pois foi um ato translingue da fronteira no que já chamamos aqui, esse continuum das línguas. Cada um falando na sua língua, se entenderam e se comunicaram. Tenho observado várias conversações que vão nesse encontro das línguas cada vez mais frequentes em Foz do Iguaçu e isso é muito bom.
Na verdade, a mistura das línguas não é algo recente e nem próprio apenas da fronteira, a globalização contribui na junção, na mistura das línguas e no próprio amalgama. El historiador Peter Burke, en una breve nota para um periódico brasilero, lo enunciaba muy bien:
“As línguas africanas contribuíram com centenas de palavras ao português, de orixá a quilombo, e com alguns vocábulos para o inglês e o francês. Os contatos crescentes entre a Europa e o mundo muçulmano e, esperemos, a crescente compreensão de seus costumes se refletiram na quantidade de palavras árabes e turcas que ingressaram nas línguas européias na época, palavras como cadi (“juiz”), aga (“senhor”), bazar, harém, xeique, sultão, paxá, dervis, muezim. Navegadores e comerciantes no Mediterrâneo usavam frequentemente o idioma conhecido como “língua franca”, uma mistura de veneziano e árabe, com um pouco de português e outros idiomas”.