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Muçulmanos da tríplice fronteira começam o Ramadã nesta terça-feira (13)
No islamismo os 30 dias de Ramadã é o período mais sagrado para os muçulmanos, tendo seu inicio e fim definido conforme o calendário lunar e a chegada da lua crescente
Nesta terça-feira (13) muçulmanos da Tríplice Fronteira Brasil, Argentina e Paraguai iniciam o período de jejum do Ramadã, mês sagrado para a religião islâmica em todo o mundo.
O Ramadã contará com distanciamento e máscaras para pessoas que planejam orar em mesquitas.
A prática do Ramadã em tempos de pandemia
Aicha Eroud é uma praticante da religião muçulmana e vive na cidade Foz do Iguaçu. Ela nos contou em relato concedido por telefone um pouco sobre o que é o Ramadã e como tem sido neste período de restrições da pandemia.
“Meu nome é Aicha Eroud, sou advogada e muçulmana. E como muçulmana estou aguardando o início do mês sagrado denominado Ramadã.
Mas qual é o significado do Ramadã, tão esperado pelos muçulmanos?
Nesse mês foi ordenado o jejum que é um dos 5 pilares do islã, o qual está prescrito no alcorão sagrado iniciando o jejum ao nascer do sol e se estendendo até o pôr do sol durante todo o mês.
É importante frisar que não se trata somente de privar as refeições, mas de se abster de toda e qualquer prática e pensamento malicioso. Treina-se durante o Ramadã a bondade, a caridade, a fraternidade e a sensibilidade em relação ao próximo. Renova-se a fé em Deus. Para além do jejum do corpo, temos o alimento da alma.
É importante compreender essa essência do Ramadã para alcançar o seu real significado e propósito.
“Em tempos normais costumávamos orar na mesquita após o desjejum, parte da comunidade muçulmana frequentava diariamente as orações e eu ia com a minha família”.
Aicha Eroud
Posso descrever esse momento como um dos mais significativos da minha vida, todos estavam presentes com o mesmo propósito: agradecer, pedir ajuda e perdão a Deus, todos lado a lado sem diferenças.
Todavia o período que estamos atravessando não nos permite mais as orações na mesquita como ocorria até pouco tempo atrás. Neste momento a mesquita seguirá o período do Ramadã assim como nos demais, observando os protocolos de segurança para evitar o contágio e obedecendo os decretos.
Considerando a atual situação, eu e minha família praticaremos o jejum, as orações, e as súplicas em casa.
Com votos de um abençoado Ramadã aos irmãos e irmãs muçulmanos encerro com as palavras Ramadã Kareem, que significa Ramadã bondoso”, finaliza Aicha.
O que é o jejum? Foto: Mesquita Omar Ibn Al-Khattab
Ramadã – Foto: Mesquita Mesquita Omar Ibn Al-Khattab
No islamismo os 30 dias de Ramadã é o período mais sagrado para os muçulmanos, tendo seu inicio e fim definido conforme o calendário lunar e a chegada da lua crescente.
Foi neste mês que o sagrado alcorão foi revelado pelo profeta Muhammad que é considerado o último profeta de Deus.
O jejum é considerado obrigatório para a maioria dos muçulmanos, exceto para aqueles que possam ter a saúde comprometida pela falta de alimento ou que não estejam nas condições adequadas para participar do Ramadã.
Funcionamento da Mesquita Omar Ibn Khatab – Foz do Iguaçu
A mesquita de Foz do Iguaçu, “Omar Ibn Khatab”, divulgou em sua página o calendário e horário das orações do mês do Ramadã 2021 / 1442 Hijri, que também está disponível na portaria da Mesquita.
A Diretoria do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Foz do Iguaçu, comunicou ainda que a mesquita está aberta a toda a comunidade para orações, mas continuam suspensas ainda as visitações para turistas.
Baseado no último decreto, está permitida inicialmente a entrada de um total de 50 (cinquenta) pessoas maiores de 13 anos, e conforme o aumento do número de vacinados esse número também será aumentado gradativamente.
Aferição da temperatura, uso de máscaras e álcool gel, entrega de senha de acesso ao interior da mesquita e posterior devolução na saída.
A reza somente será permitida àquele que tenha consigo o seu próprio tapete. Não será permitido deixar o tapete na mesquita, retirando junto na saída e trazendo consigo para cada oração.
A mesquita ressalta ainda que está tomando todas as precauções para zelar pela saúde de todos e pede a compreensão de toda a comunidade, pois, risco de contágio segue se mostrando alto e os hospitais lotados.
E que novos comunicados poderão ser emitidos a qualquer momento, sempre dependendo dos decretos dos governos municipal e estadual.
Sempre rogando a misericórdia infinita de Allah, oramos pelo abrandamento desta crise pandêmica, concitando a todos que aproveitem este momento para reflexões de vida e estreitamento dos laços familiares. – Mesquita Omar Ibn Khatab
Comunidade muçulmana em Foz do Iguaçu e na Tríplice Fronteira
Segundo dados do último censo do IBGE, existem 35 mil muçulmanos no Brasil e só no Paraná 24 municípios têm presença islâmica. Foz do Iguaçu é a cidade que abriga a maior parte dos muçulmanos que vivem no Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo.
Cerca de 12 mil árabes-mulçumanos vivem entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este (Paraguai).*
Além disso, a cidade abriga a maior Mesquita da América Latina, a mesquita “Omar Ibn Khatab”. A cidade paraguaia vizinha Ciudad del Este também conta com uma uma mesquita, tornando visível a forte presença da religião islâmica na região fronteiriça.
Mesquita Omar Ibn Al-Khatab em Foz do Iguaçu. Foto: Luana Tomaz.
Mesquita de al-Rashdeen em Ciudad del Este, a maior mesquita do Paraguai.
Fontes: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
*Referências: CARLOTO, Denis Ricardo; GIL FILHO, Sylvio Fausto – O espaço de representação da comunidade árabe-mulçumada de Foz do Iguaçu – Paraná.
SOUZA, Rafaela Cristina SIlva de. – As comunidades árabes-muçulmanas de Foz do Iguaçu no contexto de “secularização da tríplice-fronteira”.