O Que Será de Foz?

Desde quando comecei a me manifestar publicamente sobre os temas de nossa cidade sou volta e meia criticado por amigos sobre minha visão.

Minhas opiniões são baseadas em estudo liderado por mim e realizado com equipe multidisciplinar, publicado no ano de 2016 chamado Diagnóstico Econômico de Foz do Iguaçu. O mesmo foi distribuído gratuitamente para entidades e formadores de opinião.

Um breve olhar histórico demonstra claramente que nossa cidade vive de ciclos. Esses ciclos podem ser divididos em 4. O primeiro, juntamente com a fundação da cidade foi o clico extrativista de madeira, trazendo riqueza aos primeiros moradores através do corte de nossas árvores nativas, algo extremamente aceitável naquela época, mas hoje impensável. Depois vieram os colonos e instalaram o ciclo da erva-mate, plantando e exportando a planta para um mercado consumidor crescente, capaz de incentivar o crescimento e desenvolvimento de Foz.

O terceiro ciclo foi o que trouxe realmente a grande mudança, a construção da Usina de Itaipu. Da noite para o dia Foz recebeu 70.000 trabalhadores que se tornaram efetivos moradores.Ganhando seus salários aqui, também gastavam aqui, movimentando o setor de comércio e serviços, formando assim novos bairros e criando a maior geradora de impostos para nossa cidade até os dias atuais.

Quando o ciclo da construção da Itaipu começa a chegar ao fim, o quarto ciclo se inicia, chamado pejorativamente de ciclo da muamba. Milhares de trabalhadores perderam seus empregos após o término da construção da usina e isso impulsionou, aliado às condições econômicas do Brasil e do Paraguai, a importação informal massiva de produtos vindos de Ciudad del Este, se tornando o sustento de muitas e muitas famílias em Foz. Eu chamo esse de último ciclo econômico de Foz do Iguaçu.

Me lembro de uma passagem de 2004, ano que recém-formado mudei para Foz. A diarista que trabalhava uma vez por semana em meu pequeno apartamento na rua Rui Barbosa, a qual eu tenho um carinho especial e sou grato, me dizia fazer poucas diárias por semana, pois quando precisava de dinheiro ia para a ponte, passava duas ou três mercadorias, e já tinha dinheiro para viver o resto da semana.

Quando o Governo Federal inicia a política de fiscalização intensa da Ponte da Amizade, algo que concordo plenamente, houve um efeito não pensado pelos governantes e muito menos para o qual a prefeitura se preparou. Os iguaçuenses perderam fonte de renda, ficaram sem dinheiro e muitos não aguentaram indo embora da cidade. Um dado alarmante mostra isso de maneira drástica: Foz perdeu 60.000 habitantes em 12 anos. Passamos de 320.000 habitantes em 2004 para 260.000 em 2016. Para piorar a situação, no ano de 2019 foi a única cidade do Paraná com mais de 100.000 habitantes que encolheu, perdendo ainda mais moradores.

Como já diz o ditado: contra fatos não há argumentos. Desde 2004 Foz não tem um programa de desenvolvimento capaz de evitar que seus moradores vão embora da cidade. Além dos casos graves de corrupção ocorridos na cidade nos últimos anos, os prefeitos que vieram não deram atenção ao tema, pensando que o turismo e os royalties de Itaipu fossem suficientes para sustentar as políticas públicas. Não foram e agora no pós-pandemia a situação só piorou. O turismo viverá recessão de pelo menos 2 anos e a tendência é os royalties diminuírem com a situação econômica do Brasil.

Aqui cabe a pergunta: e agora, o que será de Foz?

Precisamos de um plano ousado, bem pensado e de longo prazo liderado pela prefeitura, envolvendo os demais atores locais para que um novo ciclo de prosperidade se estabeleça. Não podemos mais tapar o Sol com a peneira, Foz está encolhendo, negócios estão fechando e as pessoas estão indo embora. Precisamos todos sermos parte da recuperação. Se há esperança, é necessário haver mudança.

* Phelipe Mansur, empresário em Foz do Iguaçu. Administrador de Empresas com curso de liderança pública pela Harvard Kennedy School. Atualmente é Superintendente da Casa Civil do governo Ratinho Júnior.

 

 

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Fotografia da cidade Foz do Iguaçu: 100fronteiras. / Fotografia Phelipe Mansur: arquivo pessoal.