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Entre Rios do Oeste: Élida Grellmann conta sua história de vida
Era uma tarde quente de verão na fronteira quando eu cheguei à casa de Dona Élida Grellmann para uma longa conversa, na qual, com seu sotaque carregado, ela me contaria a história de superação e conquistas ao lado do falecido esposo, Ilvo Grellmann, o primeiro vereador de Entre Rios do Oeste do estado do Paraná, conheça a história
Dona Élida Ludtke é de uma família de nove irmãos descendentes de alemães que nasceu em Agudo, no Rio Grande do Sul. Casou-se com o senhor Ilvo Grellmann, no município de Crissiumal, também filho de descendentes alemães e que tinha três irmãos. Eles se mudaram para a linha Guabiroba, no município de Crissiumal, onde abriram um comércio de secos e molhados no final da década de 1950.
A cidade localizada no Rio Grande do Sul desmembrou-se de Palmeira das Missões de Cruz Alta e Passo Fundo em 1874. O que contribuiu para o desenvolvimento do município foi a chegada dos imigrantes alemães. Os primeiros anos da década de 1930 foram os que marcaram o início do povoamento e da ocupação de Crissiumal. Mas o local se tornou município oficialmente apenas em 18 de dezembro de 1954.
No começo dos anos 1960 houve uma crescente migração de sulistas para o Paraná. Nessa época, já com os três filhos (Antenor, Carlos e Luiz), a família decidiu mudar-se para o estado em busca de uma vida nova.
Sentada na área de casa, Dona Élida segurava as fotografias e revivia as lembranças da chegada da família ao Paraná. “Nossa história com o comércio começou ainda no Rio Grande, e quando viemos para o Paraná paramos em Chopinzinho. Lá demos sequência ao nosso trabalho com o comércio, mas na época a região era perigosa por conta dos grileiros de terra. Ilvo então ouviu falar que o Oeste paranaense estava recebendo muitos imigrantes vindos do Sul e em 1963 foi visitar o distrito de Entre Rios do Oeste, onde comprou um terreno. No ano seguinte ele construiu a casa, e em 1965 nos mudamos definitivamente para lá.”
Primeiros anos no Paraná
Voltando na história, inicialmente Entre Rios do Oeste pertencia ao município de Guarapuava. Em 1914, Foz do Iguaçu se emancipou de Guarapuava, e Entre Rios do Oeste passou a pertencer a Foz. Mas somente em 1950 foi construída a rodovia PR-495, que passava pela antiga Estrada do Colono e ligava as cidades ao Sul do país. Isso possibilitou que muitas famílias viessem de lá para o Paraná, resultando em uma grande colonização sulista em Entre Rioss do Oeste, Paraná. E uma dessas famílias foi a Grellmann.
No dia 28 de julho de 1959, o hoje município de Entre Rios do Oeste começou a escrever sua história.
“Nós chegamos no distrito de Entre Rios do Oeste em 1965, e o local era bastante deserto, sem luz elétrica, sem comércio e com estradas precárias. Havia muito mato, mas apesar do cenário era uma excelente oportunidade para darmos sequência ao nosso trabalho com o comércio”, relembra. A ideia do casal era abrir sozinho o estabelecimento, pois tinha toda a estrutura, as mercadorias e o caminhão, porém logo que eles chegaram ao distrito o senhor Ilvo conheceu João Natalio Stein, então abriram o comércio em sociedade.
A família construiu uma casa e se tornou vizinha do pioneiro de Entre Rios do Oeste João Naue. Élida relembra ainda que era amiga da esposa dele, Neli Naue, que em 1960 foi a primeira professora da cidade. “Fiz muita amizade lá e gostava de reunir minhas amigas para jogar canastra ou então cozinhar. Cuca e galinhada eram minhas especialidades. Já os homens se reuniam para tomar cerveja e prosear, além de caçar e pescar”, conta, animada.
Em 1967, a professora organizou um desfile de 7 de setembro.
A tranquilidade do lugar proporcionava às crianças a graça de crescerem felizes. Dona Élida recorda que não havia perigo, pois todo mundo se conhecia. Os filhos andavam descalços e brincavam no potreiro até o anoitecer. Jogavam bola e pescavam. “A vida no interior era simples. Sem energia elétrica, nos reuníamos em volta do fogão a lenha e conversávamos. Contávamos histórias para os nossos filhos nas noites silenciosas onde um pequeno lampião iluminava a escuridão. Hoje, recordando tudo isso, vejo como éramos felizes”, descreve.
Vida social
E pela simplicidade da vida, a família Grellmann foi criando raízes em Entre Rios do Oeste e fazendo grandes amizades. Os filhos cresciam em segurança, e o casal ia colecionando eventos.
“Nós tínhamos uma boa convivência com todos e por conta disso éramos convidados para sermos padrinhos de vários casamentos na comunidade, além de participarmos dos bailes de escolha da Rainha do Distrito.”
O senhor Ilvo também era um apaixonado por futebol, desde os tempos de Crissiumal, e sempre que havia jogos ele participava. Em 1966, organizou o primeiro desfile do Dia do Colono, do qual fez questão de participar com os filhos desfilando com seu caminhão.
Já nos raros momentos em que a família viajava, o local de destino era Guaíra, onde visitaram as Sete Quedas do Iguaçu em 1967.
Vivendo alguns fatos históricos que marcaram Entre Rios do Oeste, Paraná
Ao repassar as fotos antigas uma a uma, Dona Élida vai rememorando alguns dos principais acontecimentos na região. E apesar de ter inúmeras boas lembranças, algumas são tristes, como foi o caso da única serraria da cidade que queimou. “Foi uma tragédia, comoveu toda a cidade, pois deixou muitas pessoas desempregadas.” Além disso, o posto de gasolina da família, que ficava em frente à praça, no centro de Entre Rios do Oeste, também queimou. “Nem gosto de recordar esses momentos”, diz. Houve ainda uma enchente na Ponte do Rio São Francisco que levou dezenas de curiosos ao local para verem a fúria da natureza.
Em 1959 foi construída a primeira ponte sobre o Rio São Francisco. De acordo com informações do município, essa foi a primeira de várias pontes, pois sempre foram levadas pelas enxurradas, e por um tempo se utilizava uma balsa de força humana puxada por uma corda de um lado até o outro.
Política
“Ilvo sempre foi muito visionário e ele sentia que a região era boa para o desenvolvimento do comércio, então nos mudamos para lá na intenção de expandir a nossa loja de secos e molhados. Mas a hospitalidade da cidade e a boa convivência com nossos vizinhos abriu portas para ele na política.”
Já era final da década de 1960, contudo o Distrito de Entre Rios do Oeste ainda não tinha representantes. Como havia a necessidade de desenvolver a região, a comunidade se reuniu para escolher um representante.
Foi quando o nome do senhor Ilvo foi citado. “No início eu não gostei da ideia dele ser vereador, pois naquela época não haviam salários e o comprometimento dele com a política fez com que ele deixasse o comércio de lado. A situação era precária, ele precisava viajar mais de 40 quilômetros até a cidade de Marechal Cândido Rondon em busca de verbas e com isso estragou dois carros. Mas mesmo com todo esse prejuízo, ele não desistiu. E eu me mantive ao lado dele em todos esses momentos”, relata.
Ao assumir como vereador, Ilvo desfez a sociedade com João Stein e, como parte do acordo, ficou com o posto de gasolina. Ele ocupou o cargo de vereador de 1970 a 1974 e por um tempo foi líder do prefeito, colecionando grandes conquistas para Entre Rios do Oeste, Paraná. As mais importantes conquistas do mandato foram a inauguração do campo de futebol do ClubeAtlético e a inauguração de um ginásio e da Escola Pio XII,além da construção da ponte que liga Entre Rios do Oeste, Paraná a Pato Bragado.
Entretanto o que mais marcou a carreira dele como vereador e que Dona Élida relembra com brilho nos olhos foi a chegada da energia elétrica. “Não tem como explicar a sensação de felicidade que sentimos quando a luz chegou a Entre Rios do Oeste. Foi algo mágico, era a consolidação do progresso na cidade e motivo de muito orgulho para todos nós.” Com isso o comércio pôde ficar aberto até mais tarde, as famílias passaram a ter geladeira em casa e houve a chegada do cinema.
Depois que o mandato como vereador acabou e com a queima do posto de gasolina, Ilvo voltou a trabalhar com o comércio de secos e molhados. Tempos mais tarde, sentiu-se com o dever cumprido e decidiu que era hora de mudar. Então veio com a família para Foz do Iguaçu. Quando saiu de Entre Rios do Oeste foi agraciado com uma homenagem de Título Patrimonial, que em 8 de maio de 2019 completou 44 anos, algo que a família guarda até hoje. Aqui em Foz ele viveu de 1975 até 1997, quando faleceu.
A intenção era reunir todo o relato de Dona Élida e lançar um livro em novembro deste ano, quando completariam 50 anos da eleição que elegeu senhor Ilvo como o primeiro vereador de Entre Rios do Oeste. No entanto, infelizmente, Dona Élida morreu no dia 30 de março, não conseguindo ver impressa a publicação de sua história.
* Esse material foi produzido com o apoio e orientação do Diretor de Redação da 100fronteiras e filho do senhor Ilvo e dona Élida, Carlos Grellmann. As fotos são exclusivas do acervo da 100fronteiras e família. Portanto, é proibida a reprodução.
Emocionada lendo a história da dona Élida, muito amiga da minha mãe. Lembro quando criança, já morando no Paraguai íamos a Foz a minha mãe sempre passava para ver a amiga. Realmente uma pena ela não poder ver impressa a publicação de sua história.
Emocionada lendo a história da dona Élida, muito amiga da minha mãe. Lembro quando criança, já morando no Paraguai íamos a Foz a minha mãe sempre passava para ver a amiga. Realmente uma pena ela não poder ver impressa a publicação de sua história.
Família maravilhosa a minha mãe dona Noêmia era muito amiga da família.
Que legal Paulo, ficamos felizes em saber que guardam boas recordações da família!
Nós no início de Entre Rios negociava com o Sr.Ilvo boas recordações quardamos da família Grelman
Olá Aliete, é sempre bom recordar as felizes histórias do passado, não é mesmo? Ficamos felizes com a sua recordação.