O 100fronteiras.com é um portal dedicado ao jornalismo local na Tríplice Fronteira. Com mais de 18 anos de experiência, promovemos conexão e informação relevante para a comunidade das regiões do Argentina, Brasil e Paraguai.
Um módulo inovador de proteção para caixas de abelhas sem ferrão foi lançado com o objetivo de evitar a depredação das colmeias por animais como macacos, quatis e lagartos. Desenvolvido com uma combinação de madeira e metal, esse módulo se mostra eficaz no estabelecimento da meliponicultura em áreas florestais e locais de exposição, como escolas e espaços públicos.
A meliponicultura é a criação racional de abelhas sem ferrão para a produção de mel e outros derivados. A prática valoriza as espécies nativas e promove a conservação da biodiversidade e polinização de plantas.
O projeto, que se estendeu de 2021 a 2023, foi uma colaboração entre a Itaipu, Embrapa e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e integra o convênio do Núcleo de Inteligência Territorial (NIT) da Fundação Parque Tecnológico Itaipu. A concepção inicial do módulo partiu de Edson Zanlorensi, empregado da Divisão de Áreas Protegidas de Itaipu.
Atualmente, no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), há mais de 50 dessas caixas técnicas em uso, construídas com materiais fornecidos por Itaipu e produzidas por mão de obra terceirizada. Além de proteger as abelhas, o projeto revelou informações valiosas sobre a população de abelhas nativas sem ferrão no RBV.
Fotos: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
As abelhas são excelentes bioindicadores da qualidade ambiental e cruciais para a polinização e produção de alimentos
disse zanlorensi
O módulo não só ressalta a importância das abelhas na ecologia, como também pode ser adaptado para diversas aplicações, como a reintrodução de abelhas em áreas degradadas, em projetos educacionais, pesquisas e na produção de mel. Para Zanlorensi, que dedicou 35 anos de sua carreira ao meio ambiente na Itaipu, “é extremamente gratificante desenvolver algo tão inovador para a proteção das abelhas nativas, que estão seriamente ameaçadas pelas ações humanas.”
Olhando para o futuro, os planos incluem a expansão do projeto para outras unidades de proteção ambiental da Itaipu e a transformação do RBV em um centro de referência na área de manejo, reprodução de colônias de abelhas nativas e capacitação técnica em meliponicultura.
Fotos: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
Dois modelos
Foram desenvolvidos dois modelos de módulos: um horizontal e um vertical, nas dimensões adequadas para abrigar os padrões de caixas utilizadas no projeto.
Espécies como Bugia (Melipona mondury), Canudo (Scaptotrigona depilis), Mandaçaia (Melipona quadrifasciata) e Borá (Tetragona clavipes) já estão abrigadas nos módulos, com bastante sucesso.
As abelhas sem ferrão são importantes aliadas na agricultura e na manutenção de florestas, pois atuam na polinização de diversas espécies de plantas. O mel refinado produzido por elas também é bastante apreciado. Atualmente, um dos grandes desafios enfrentados pelos criadores é exatamente a predação por animais das caixas que contêm as colmeias.
Inovação na meliponicultura
Fotos: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
A inovação criada por Itaipu e parceiros foi publicada no Comunicado Técnico 489, da Embrapa Florestas (Colombro/PR), em agosto de 2023. O projeto foi desenvolvido no Refúgio Biológico Bela Vista ao longo da pesquisa intitulada “Diagnóstico e conservação da fauna de Hymenoptera em áreas naturais da Itaipu Binacional, com ênfase em espécies da tribo Meliponini”.
Além da proteção física, os testes feitos até agora demonstraram que a estrutura oferece melhores condições de temperatura e umidade para as colônias. Em condições extremas de variação térmica e de precipitação, como ocorre em Foz do Iguaçu, essa proteção é muito importante para a sobrevivência das abelhas.
Em função de sua versatilidade e com visual esteticamente agradável, o módulo pode ser aplicado em diferentes projetos, como na reintrodução de espécies de abelhas para enriquecimento, para fins conservacionistas, em experimentos de polinização em áreas de pomares de sementes, na meliponicultora para produção de mel e outros derivados, na pesquisa e também na educação ambiental. Em qualquer destas condições, é imprescindível garantir a segurança das colônias contra o roubo e ataque de animais. Hoje, o plantel genético de abelhas do RBV conta com mais de 100 colônias de 12 espécies, todas nativas do Paraná.
Boa parte das colônias foi adquirida de meliponicultores da região e outra capturadas no refúgio, e estão alojadas nos módulos de proteção e nas três estruturas isoladas com telas, denominadas de meliponários. A espécie mais comum no RBV e com o maior número de colônias até o momento é a Canudo (Scaptotrigona depilis).
Espécies existentes no RBV em caixas técnicas:
Canudo (Scaptotrigona depilis)
Mandaçaia (Melipona quadrifasciata)
Bugia (Melipona modury)
Borá (Tetragona clavipes)
Jataí (Tetragonisca fiebrigi)
Manduri (Melipona marginata)
Mombucão (Cephalotrigona capitata)
Mirim-guaçu (Plebeia romota)
Mirim-droryana (Plebeia droryana)
Lambe-olhos (Leurotrigona muelleri)
Guaraipo (Melipona bicolor schenki)
Mirim-nigriceps (Plebeia nigriceps)
Sobre as abelhas sem ferrão
Fotos: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
As abelhas sem ferrão (ASF), popularmente conhecidas como abelhas indígenas ou meliponíneos, pertencem à ordem Hymenoptera, um dos maiores grupos entre os insetos, que abrange também vespas e formigas. Elas exercem uma função ecológica essencial para os ecossistemas e a biodiversidade, que é a polinização das flores, além de contribuir na agricultura, como agente de polinização do café, tomate, manga, coco, morango, pepino, e pimentão, entre outros.
A estimativa é que em florestas tropicais, como a Mata Atlântica, mais de 90% das espécies vegetais são polinizadas diretamente pelas abelhas, o que contribui para perpetuação e manutenção da biodiversidade.
Nos processos de restauração florestal de áreas degradadas, elas desempenham um papel importante na polinização das plantas e produção de sementes de forma quantitativa e qualitativa.