Leitor incansável e amante dos estudos, Aulo Gélio (Aulus Gellius —130?-160?) deixou em sua única obra – Noites áticas (Noctes Atticae) – uma enorme quantidade de observações sobre assuntos variados. Dificilmente poderíamos classificar o texto quanto ao gênero. São anotações, feitas dia a dia, no silêncio da noite (daí o título), e iniciadas durante uma estada do escritor em Atenas. Prosseguindo o trabalho, já de retorno a Roma, Aulo Gélio compôs um conjunto de vinte livros.
Os capítulos se sucedem, sem ligação. São observações avulsas, de extensão variada, sobre uma pluralidade de temas. Tudo interessava ao escritor. Aulo Gélio reserva muitos capítulos para reflexões sobre a língua latina (prosódia, morfologia, fonética, sintaxe, semântica), tomando por ponto de partida leituras feitas; comenta textos literários e, por inserir longas citações nos comentários, tem o mérito de preservar trechos de obras perdidas; apresenta biografias de escritores gregos e latinos. Interessa-se, ainda, por história (contando anedotas sobre feitos pitorescos, narrando contos históricos e apresentando biografias de vultos importantes), pelo direito (a discussão sobre a Lei das XII Tábuas é bastante longa), pelas ciências e pela filosofia.
No prefácio da obra, Aulo Gélio fala do método por ele adotado: vai apresentar uma coletânea de notas de leitura. Faz, então, uma distinção entre nota e comentário. Dado o caráter da obra, a composição é pouco rigorosa e o estilo despretensioso e claro, conquanto, vez por outra, se depreenda intenção.
