Lá nos primórdios da criação do município de Foz do Iguaçu, as primeiras famílias a chegarem à cidade e instalarem seus comércios tiveram que desbravar as terras iguaçuenses pouco habitadas, sem saber que mais de 100 anos depois Foz do Iguaçu se tornaria uma cidade turística de relevância nacional e internacional. Uma dessas primeiras famílias a construir a vida em Foz, foi a família Risden.
Marcelino Risden nasceu em 25 de outubro de 1891 e era um homem à frente de seu tempo, trazendo muitos benefícios à região. Segundo depoimentos de familiares, foi o primeiro comerciante ao abrir o Armazém Marcelino Risden. Também foi o primeiro a ter um gerador elétrico. Ele teve luz em casa devido ao gerador que ficava nos fundos da casa, perto do Rio Monjolo. No armazém tinha tudo: tecidos, comestíveis, produtos de limpeza, artigos de decoração, entre outros. Para reabastecer o estoque, seu Marcelino comprava em Curitiba e trazia os produtos para Foz. Mas era uma viagem demorada e cansativa. Ele ia de carroça e levava cerca de um mês para chegar à capital e outro para voltar. Assim, ficava fora de dois meses e meio a três meses. No entanto o esforço era necessário, pois foi o comércio dele que auxiliou a população local e dos arredores a suprir suas necessidades básicas. Além desse armazém, ele tinha uma padaria.
A casa da família ficava em uma esquina da Avenida Brasil com a Rua Jorge Sanwais, e esse imóvel foi adquirido em 1915, do lado esquerdo da avenida. Nos dois lotes contíguos e sequenciais à casa ficavam o armazém e a padaria.
A família também possuía uma chácara chamada Maracanã, onde hoje está localizada a Vila Maracanã. Nela, a família plantava erva-mate e tinha uma pequena fábrica artesanal para processar a planta, inclusive com barbaquá (estrutura de madeira com um forno para secá-la completamente). A erva, depois de processada, era comercializada até no exterior. Também havia criação de vacas leiteiras, ovelhas e porcos, mas a produção servia apenas para o consumo familiar e dos empregados, visto serem muitos comensais.
Além de todas as atividades que o comércio e a família exigiam, Marcelino Risden ainda atuou no campo da política e serviço público. Ele foi vereador por quatro mandatos seguidos (1916-1932) e juiz de paz (1941).
Em meados da década de 1920 adquiriu um caminhão Ford a manivela. Esse foi o primeiro caminhão da cidade, conforme lembra a família. Na época, a Avenida Brasil era conhecida como Rua Botafogo, e até hoje é marcante para os pioneiros, pois era uma via íngreme e muito difícil de subir, principalmente quando chovia, momento em que ela ficava coberta de lama e era necessário empurrar as carroças e carros.
Revolução de 1924
Muitos soldados da Coluna Prestes vieram para Foz do Iguaçu por conta da Revolução de 1924. Isso mudou a rotina dos moradores por um período. Foi no mês de setembro daquele ano que a cidade se viu tomada pelos revolucionários, e no meio disso, em um primeiro momento, a família Risden foi para o Paraguai devido ao receio pela revolução. Depois, o Sr. Marcelino e família voltaram para cuidar de seus negócios atendendo a população e às tropas do Exército.
Naquele tempo a família estava completa e era composta pelo pai, Marcelino Risden, pela mãe, Dona Clara Hansen Risden, e 12 filhos, sendo cinco meninas e sete meninos. A maioria dos filhos tinha um apelido. A sequência deles, por ordem de nascimento, é: Theodoro (Tito); Frida (Tita); Anatalicio (Nenê), pai do almirante Risden; José (Ieca); Emília (Nena); Alberto (Miquilo); Miguel; Idete; João; Ramão; Erna e Emir (Miloca/Polaquinha).
Na área esportiva e de lazer de Foz do Iguaçu, o Sr. Marcelino também esteve presente. O primeiro campo de futebol da cidade foi doado por ele, no terreno em que hoje se localiza o Hotel Rafagnin. Além disso, ele foi o fundador do time de futebol ABC. Havia somente dois times de futebol; o outro era chamado de Guairacá, equipe do Exército. O pioneiro também ajudou a fundar o Oeste Paraná Clube, no local hoje ocupado pelo Supermercado Ítalo, do centro. Os filhos Anatalicio e Jair eram do time Guairacá, visto que naquela época serviam no Exército. O time ABC durou muitos anos, chegando a ter jogadores da família até a terceira geração (netos). A curiosidade é que em ambas as equipes havia familiares.
A vida sem Marcelino
Dona Clara Hansen Risden, nascida em 24 de abril de 1901, sempre foi uma mãe atenta e firme na criação de seus filhos, além de ajudar seu esposo em seus negócios. Remédios naturais e alimentação saudável eram os tratamentos que ela ministrava a seus filhos. Considerada por eles e pela comunidade uma pessoa muito bondosa, ela perpetuou a memória familiar contando histórias do Sr. Marcelino e do cotidiano do casal.
Entre as histórias contadas por ela e relembradas pela família, há as do Armazém, onde tudo era exposto a granel. As pessoas vinham com suas sacolas, e os grãos eram pesados e entregues aos clientes. Era pedido que os compradores levassem um produto ou outro a mais, entretanto se percebia que a pessoa não tinha condições de pagar o Sr. Marcelino não cobrava pelos alimentos extras e ainda enchia suas sacolas com mais mercadorias a fim de garantir sua subsistência. A população local o chamava de “Coração Bom”.
Após o falecimento do Sr. Marcelino, em 14 de dezembro de 1945, os filhos auxiliaram Dona Clara na administração do Armazém até se casarem. Posteriormente, a família arrendou o comércio por uns cinco anos antes de vendê-lo.
Novas gerações
O filho Anatalício nasceu em Foz do Iguaçu em 1920 e acompanhou a formação da cidade, sem saber que anos mais tarde aqui seria instalada a maior usina hidrelétrica do mundo, em geração de energia, Itaipu Binacional, na qual o seu único filho homem se tornaria o diretor-geral em 2022, o Almirante Anatalício Risden Júnior.
Hoje existe dois irmãos ,ela 94 anos ele 92 ambos nascido em foz família Engelage, Foz ainda não conhece toda sua história!
Bom dia, não entendi o seu comentário Valderson, poderia explicar? Obrigada! Meu e-mail: thaynara@100fronteiras.com
Nossa parabéns pela reportagem muito boa. E pra Foz que orgulho.
Obrigada pelo apoio, Paulo!