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De acordo com Rita Araújo, “centrinho histórico” é “um apelido carinhoso” para essa região que vemos na foto aérea dos anos 40. Rita, que mantém o grupo “Foz do Iguaçu dos tempos idos, mas não esquecidos” (no Facebook), é filha do engenheiro Augusto Araújo. Araújo trabalhou na Companhia Dolabella, a empresa que construiu as obras do Parque Nacional do Iguaçu.
Foz do Iguaçu se tornou um canteiro de obras na virada dos anos 1930 para os anos 1940. A modesta pista de pouso cedeu espaço para um moderno aeroporto. Um hotel de luxo foi construído ao mesmo tempo que a prefeitura e a delegacia. Essas duas últimas se somaram ao Grupo Escolar, à Igreja e à Casa Paroquial. Somente a delegacia foi demolida nos anos 1980. Os demais prédios continuam nos seus lugares.
Em 1945, Augusto Araújo casou-se com uma “filha da terra”. Conceição, mãe de Rita, nasceu em Posadas, mas foi registrada em Foz do Iguaçu em 1923. Próximo ao centro, Augusto comprou um terreno acreditando no crescimento e importância futura daquela área. Depois de estabelecido, ajudou a fundar diversos empreendimentos e foi um dos sócios fundadores da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (ACIFI).
Igreja
Como na maioria das cidades da América do Sul, em Foz do Iguaçu a vida social começou em torno de uma pequena igreja. O primeiro padre a fixar residência em Foz do Iguaçu foi Guilherme Maria Thiletzek, em 1923. Na época, o padre Guilherme tinha 41 anos e partiu de Guarapuava logo após o governador do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha, oferecer um apoio financeiro regular para a organização e direção de uma escola na cidade.
A década de 1920 foi agitada. Três anos depois da instalação permanente, em 1925, a comunidade obteve autorização para construir uma nova capela. Já estava nos planos uma igreja em alvenaria quando o fogo consumiu o edifício de madeira que havia servido como igreja nos anos anteriores. Depois de muitos desafios, a nova igreja ficou pronta em 1942.
Em 1926, uma surpresa. Foz do Iguaçu se tornou uma prelazia. Isso significava que a matriz São João Batista não seria apenas uma igrejinha de uma cidade do interior. No Paraná, a organização católica ficaria assim: Arcebispado de Curitiba, Bispado de Ponta Grossa, Bispado de Jacarezinho e Prelazia de Foz do Iguaçu.
Igreja pegando fogo.
O título de Monsenhor, autoridade católica equivalente a bispo, foi atribuído ao até então padre Guilherme por conta do status de prelazia da igreja de Foz do Iguaçu. Monsenhor é o título do padre responsável pela prelazia. Essa é a origem do conhecido nome Monsenhor Guilherme.
Igreja em construção.
Grupo Escolar
Além do auxílio financeiro mensal, o governo do Paraná prometeu aos padres que construiria uma escola na cidade. A construção começou em 1926 e foi concluída em 1928. Esse foi o primeiro prédio público construído na cidade, e soma 94 anos. Ali funcionou o grupo escolar Bartolomeu Mitre, que mais tarde mudaria para outro local.
Documentos do governo do Paraná disponíveis no Arquivo Público, em Curitiba, indicam que o prédio tinha “oito salas de aula, gabinete do diretor, etc, distribuídos em dois pavimentos”. No primeiro ano de funcionamento da escola Mitre, foram matriculados 27 alunos. Por essa escola passaria várias gerações de iguaçuenses.
Coluna Prestes não esteve em Foz
O principal evento dos anos 20 que impactou Foz do Iguaçu foi a passagem dos revolucionários do movimento tenentista de 1924. Ao contrário do que muitos dizem, a Coluna Prestes nunca passou por Foz do Iguaçu. Em 1925, Luiz Carlos Prestes e Miguel Costa, que lideravam pelotões vindos do Rio Grande do Sul por Santa Catarina, deixaram a tropa em Santa Helena e seguiram para encontrar o general Isidoro Dias Lopes em Foz do Iguaçu. O objetivo era discutir se a rebelião continuaria ou não. Voltaram, reuniram a tropa, passaram para o Paraguai, retornaram ao Brasil e continuaram a marcha. De acordo com o historiador Ruy Wachowicz, em abril de 1925, terminava a história da campanha tenentista no Paraná e “apenas iniciava-se” a história da Coluna Prestes.
Parte da cidade de Foz do Iguaçu, Paraná, s.d. (Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã)
Foto: revolucionários do movimento tenentista de 1924 ocupando a casa de Jorge Schimmelpfeng. O quinto homem em pé, da direita para a esquerda, é o general Miguel Costa (agradecimentos a Loty Ferreira pela fotografia e a Jacob Blanc pela identificação).
Revoltosos ocupando a casa de Schimelpfeng. (Arquivo Lotty Fereira).
Delegacia e prefeitura
Passaram mais de dez anos sem que o governo do Estado construísse sequer uma obra pública em Foz do Iguaçu. Em 1937, impactado com o desenvolvimento do lado argentino, especialmente com os propósitos do Parque Nacional Iguazú (criado em 1934), o Interventor Manoel Ribas colocou em execução três projetos: do hotel, da prefeitura e da delegacia. Em 1940, todas essas obras estariam concluídas e custaram 175 mil cruzeiros aos cofres do Paraná.
Delegacia de Foz.
Palácio das Cataratas?
Desde 2015 alguns escritos sugerem que o prédio da prefeitura seria conhecido como “Palácio das Cataratas”. Até hoje não foram apresentados documentos que comprovem essa nomenclatura no passado. Ao contrário, os documentos históricos indicam que o prédio era chamado simplesmente de “edifício da prefeitura”.
Prefeitura deFoz em 1960
Cidade do futuro
Assim como o engenheiro Augusto Araújo havia apostado, o desenvolvimento econômico de Foz do Iguaçu depois do Parque Nacional do Iguaçu era incomparável aos anos anteriores. Em 1940, depois de 50 aniversários de fundação e 30 de emancipação, finalmente a cidade se transformou em “cidade turística”, com uma população cada vez mais crescente e uma dinâmica econômica razoável.
Acostumados a observar o boom da população com a construção de Itaipu, por vezes passamos batido pelo fato de que Foz do Iguaçu passou de 2.650 para 28.000 habitantes entre 1948 e 1960. Daquela cidade dos anos 40, a maioria dos prédios públicos ainda estão preservados. Nesse ano de 2022, aniversário de 108 anos de emancipação e 133 de criação, lembramos do centrinho histórico como o bom começo das grandes transformações da nossa cidade.