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Aquele cheiro do café passando e do bolo quentinho saindo do forno fazem parte das nossas memórias de infância. Quem teve o privilégio de conviver com os avós consegue ter essa memória ainda mais viva dentro de si. São heranças que ficam para sempre eternizadas no coração dos netos que, mesmo depois de adultos, desejam voltar a ser crianças por pelo menos mais um dia para poder reviver tudo aquilo de novo.
Com Leila Melo Boldrini foi assim. Ela veio de uma família de mineiros, tanto por parte de pai como de mãe e, por isso, cresceu rodeada pelos avós que gostavam e sabiam preparar uma boa refeição. Na infância, o momento mais marcante era quando a família se reunia em volta da mesa farta para comer as delícias preparadas por eles.
Leila é especialista em confeitaria de alta gastronomia.
O tempo passou. Leila cresceu. No entanto, as raízes e cultura da família permaneceram com ela. Nascida em Matelândia veio para Foz do Iguaçu e aqui deu sequência à vida adulta. Trabalhou por anos como Assistente Social, mas a paixão pela gastronomia sempre tocou seu coração. Então ela foi estudar, mas foi somente quando fez um curso de confeitaria que de fato se encontrou. Eram as memórias da infância aguçando seu desejo de ter seus avós por perto mais um pouquinho.
“Cozinhar para mim sempre foi algo que despertou uma memória afetiva da história da minha família. Eu sempre gostei de cozinhar, era algo que acontecia por instinto. Reunia os amigos em casa e cozinhava para eles. Mas nunca pensei em cozinhar como profissão. Trabalhei muitos anos como Assistente Social, depois fiz outra graduação na área de saúde mental e reabilitação para dependentes químicos e, posteriormente, uma especialização em família. Eram áreas completamente diferentes da gastronomia, fui muito feliz nestes anos atuando na área social, mas ao mesmo tempo era uma profissão que exigia muito emocionalmente de mim, pois trabalhava intervindo em questões muito delicadas com famílias em vulnerabilidade. Após os dias mais tensos de trabalho, ao chegar em casa eu ia direto para a cozinha fazer meus experimentos culinários, eram momentos de uma leveza mental, quase como uma terapia”, comenta Leila.
Quando abriu a formação em confeitaria aqui em Foz do Iguaçu, seu esposo Ariel lhe incentivou a estudar. Foi ali que Leila se encontrou e viu que mais que um momento de lazer, a confeitaria poderia ser também um delicioso negócio. Assim nasceu a Dona Lola Confeitaria Artesanal.
Os doces são sua especialidade.
Dona Lola
Depois que finalizou a formação em Foz, Leila foi para outros estados conhecer novas técnicas e estudar com chefes renomados. Estudou em São Paulo e viu uma grande oportunidade de trazer para Foz a confeitaria de alto padrão. Também passou um período na Itália, onde teve a oportunidade de visitar confeitarias tradicionais e históricas – algumas com mais de um século – e algumas confeitarias modernas, como a famosa loja de Iginio Massari conhecido como “o Papa da confeitaria” em Florença, experimentando as delícias locais e trazendo inspirações para a sua produção.
Leila escolheu o nome Dona Lola em homenagem à avó paterna, pessoa de quem ela sente muito orgulho e amor. Lola criou seus seis filhos vendendo pão. Ela conta que na casa da avó Lola, o pão caseiro é sua lembrança mais doce, onde ele saía quentinho do forno de barro e comiam com manteiga, junto de uma mesa farta de café da tarde com geleias caseiras, pão de queijo e o famoso doce de ovo, algo que somente a sua família mineira sabe fazer. “Dona Lola também poderia se chamar Dona Aparecida, ou Lúcia, ou Luzia, ou Maria, ou Leila, já que ela é uma homenagem às minhas origens, aos meus antepassados, a todas as mulheres da minha família que eu observei em volta de um fogão e me ensinaram tanto. A escolha por Dona Lola é em respeito aos 88 anos dessa minha amada avó, que segue nos ensinando tanto”, descreve Leila.
Dona Lola, avó de Leila.
De volta a Foz do Iguaçu ela abriu a Dona Lola Confeitaria Artesanal, em um espaço compacto na Avenida Paraná, pois seu objetivo é confeccionar bolos, doces e salgados para eventos e festas.
Em dezembro ela alugou o espaço e há cerca de dois meses abriu as portas da confeitaria. Apesar do local ser pequeno, muitas pessoas que passam pela avenida ou encontram a Dona Lola no Instagram vão até o local conhecer a cozinha artesanal de Leila e provar as delícias que ela faz.
Uma padaria única e deliciosa.
Além dos doces, que são produzidos artesanalmente com ingredientes selecionados, como o chocolate belga e as pastas italianas, Leila também tem uma colaboradora especialista em panificação. Junto com ela, trabalha Noemi, uma jovem que Leila conheceu durante seu trabalho como Assistente Social. “Reencontrei ela pelo Instagram e quando vi que ela trabalhava com panificação a convidei para vir trabalhar comigo. Ela é responsável pela panificação e eu vou ensinando o que sei sobre confeitaria, juntas fazemos uma simbiose. Fico muito feliz de ter ela comigo, pois é uma menina que eu tinha atendido em outro momento e naquela época já via ela com muita responsabilidade, uma menina doce e paciente. Hoje é uma alegria ter ela comigo neste projeto”, comenta Leila.
Noemi e Leila.
Assim, a Dona Lola trabalha com eventos, encomendas e também recebe os clientes na confeitaria, onde além dos doces e salgados, há cafés, chás e drinks, em um cenário instagramável, acolhedor e exclusivo, assinado pelos arquitetos e amigos, Marlon Behenk e Larissa Lima.
É claro que no local há muitas memórias da sua infância, motivo que a fez escolher a confeitaria.
“O processo de criação dos doces é como uma obra de arte, pois é uma construção de etapas e, quando chega ao fim, você olha aquele doce e dá até dó de comer. É algo que realmente me encanta e me faz feliz, o feedback positivo dos clientes é um incentivo para continuar me capacitando e criando novas receitas. Hoje meu trabalho é unir elementos da confeitaria moderna com a tradicionalidade e simplicidade do sabor de infância na casa dos avós. Então eu espero de coração que quando as pessoas provarem um produto nosso, possam sentir todo amor dedicado a este projeto”.
