Apesar dos esforços incansáveis de campanhas de alerta e sensibilização, assim como das ações de fiscalização empreendidas, os alarmantes índices de violência contra a mulher ainda prevalecem em todo o território brasileiro. Uma situação que merece atenção especial se desenha em Foz do Iguaçu, onde as estatísticas não deixam dúvidas: o fenômeno persiste em múltiplos ambientes e contextos.

Os dados divulgados pela Secretaria Municipal de Segurança Pública do Paraná (Sesp) revelam uma realidade preocupante. Ao longo do primeiro semestre do ano, foram registrados um total de 3.350 Boletins de Ocorrência relacionados a crimes contra a mulher.

Isso se traduz em uma média mensal de 560 ocorrências e, de forma ainda mais impactante, 18 denúncias por dia. No cenário assombroso se desenham variadas formas de agressão, incluindo agressões físicas e verbais, assédio moral e sexual, ofensas, tortura psicológica, extorsão financeira e, nos casos mais trágicos, o feminicídio.

A atual posição ocupada pela cidade não deixa espaço para ilusões. Foz do Iguaçu figura em sexto lugar no ranking estadual, contabilizando números que, embora não alcancem os patamares observados em metrópoles como Curitiba, não deixam de ser assustadores. A capital do estado lidera com 18.406 ocorrências, seguida por Londrina (5.215), Ponta Grossa (3.968), Maringá (3.751) e Cascavel (3.730).

A escalada de casos de violência não respeita barreiras geográficas ou demográficas. O espectro abrangente da violência contra a mulher se manifesta em variados cenários: nos espaços de trabalho, nas ruas, nas escolas e, lamentavelmente, até mesmo no interior das relações familiares. Nesse último aspecto, a estatística é ainda mais aterradora, com mais de 1.000 ocorrências referentes à violência doméstica no registro do ano atual.

A triste constatação é que, frequentemente, os agressores estão inseridos no círculo mais íntimo da vítima. O próprio parceiro, muitas vezes, revela-se como o perpetrador. Nesse contexto, o apoio e a busca por ajuda podem ser fatores decisivos para que a vítima possa se libertar das garras da agressão e iniciar um novo capítulo.

Tragicamente, quando o silêncio impera, as consequências podem ser fatais. Este ano, três mulheres já perderam suas vidas devido à violência.

Além do impacto imediato, é importante reconhecer que a violência tem ramificações profundas e duradouras. Mulheres que vivenciam abusos podem enfrentar traumas e doenças ao longo de suas vidas. A própria autoestima pode ser minada, restringindo a busca por educação e desenvolvimento pessoal. Expressar opiniões, seja no lar ou no local de trabalho, também pode tornar-se um desafio hercúleo para aquelas que foram silenciadas ou desvalorizadas ao longo do tempo.

Em meio a essa complexa teia de desafios, há um raio de esperança. Em qualquer situação e contexto, as vítimas são encorajadas a procurar ajuda. A denúncia é uma ferramenta crucial para combater a violência.

A Patrulha Maria da Penha oferece um número de contato, o 153. A Delegacia da Mulher também está à disposição, por meio do telefone (45) 3521-2150, além de sua localização física na rua Anhembi, 223, na Vila A.

A segurança das vítimas é uma preocupação primordial, e medidas protetivas podem desempenhar um papel crucial nesse sentido. Se uma vítima teme a reação do agressor, ela pode solicitar uma medida protetiva, que pode incluir a determinação judicial de distância entre as partes. O descumprimento dessa medida pode levar à prisão do agressor.

No último ano, mais de 1.300 mulheres em Foz do Iguaçu buscaram medidas protetivas, e a Patrulha Maria da Penha conduziu mais de 10.000 visitas para verificar a segurança dessas mulheres. Somente neste ano, mais de 150 pedidos já foram registrados.

E para aquelas que ainda sentem receio, mesmo diante da medida protetiva, existe também a possibilidade de abrigo. Nesse caso, a patrulha acompanha a vítima até sua residência, garantindo uma retirada segura de pertences e evitando riscos.

O mês de agosto ganha um significado especial em Foz do Iguaçu, com a campanha “Agosto Lilás”, um esforço coletivo de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher.

Palestras, panfletagens e outras iniciativas enchem o calendário, visando disseminar os princípios da Lei Maria da Penha, sensibilizar a sociedade e conscientizá-la sobre a imperativa erradicação da violência de gênero. A divulgação dos serviços especializados de apoio às mulheres em situação de violência e dos mecanismos de denúncia é parte integrante desse movimento.

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Diante desses desafios, a luta contra a violência persiste, alimentada pela esperança de dias melhores e por uma sociedade que abrace a igualdade e o respeito. O caminho é longo, mas o compromisso em trilhá-lo é inabalável.