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Há pouco mais de dois meses à frente da Itaipu Binacional, Enio Verri, economista e professor, recebeu o Grupo 100fronteiras para uma conversa a respeito de sua trajetória profissional e, é claro, sobre seus planos para a empresa. Verri, sorridente e carismático, tornou a conversa descontraída e repleta de conteúdo. Confira!
Como foi sua trajetória profissional antes de assumir como diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional?
Até os 40 anos, eu era professor da Universidade Estadual de Maringá e também havia sido executivo de uma grande rede de varejo. Em 2000, quando o Partido dos Trabalhadores venceu as eleições, fui convidado para ser secretário da Fazenda do município. A cidade enfrentava problemas políticos, e o acordo era que eu ficaria por um ano para organizar as contas e depois retornaria ao meu papel anterior. No entanto, o prefeito faleceu e eu acabei permanecendo por quase todo o mandato.
Depois que o presidente Lula ganhou as eleições em 2003, fui convidado para ser chefe de gabinete do Ministério do Planejamento no primeiro mandato dele. Após esse mandato, fui convidado pelo governador Roberto Requião para ser secretário de Estado do Planejamento, o que me fez voltar ao Paraná. No executivo, minha atuação sempre foi na área de planejamento e finanças.
O meu partido me propôs um desafio para que eu me candidatasse a deputado estadual e fui eleito. Desde então, fui reeleito três vezes para deputado federal. No total, são 23 anos dedicados à gestão pública, seja no Poder Executivo ou no Legislativo. Em 16 de março, eu assumi a Itaipu, o que exigiu minha renúncia ao mandato. Portanto, não estou licenciado, não sou mais deputado.
O que o motivou a aceitar este cargo importante na Itaipu Binacional?
Desde que entrei no Partido dos Trabalhadores, e quando aceitei o cargo de secretário da Fazenda, eu assumi um compromisso social. Tinha minha carreira, mas achei que era importante contribuir com a população, que necessitava de ajuda. Portanto, estou na política há 23 anos, e a política me remunera a serviço da população. Quando o presidente da República me convidou para a Itaipu, pediu que eu contribuísse para a sociedade, encarando este grande desafio em uma empresa mundialmente conhecida.
A Itaipu Binacional é um exemplo de cooperação internacional. Como você planeja fortalecer ainda mais essa parceria entre Brasil e Paraguai durante sua gestão?
Tenho grande reconhecimento pelo trabalho dos meus antecessores. Cinquenta anos de parceria entre dois países de tamanhos e políticas públicas distintas não são fáceis. O desafio que tenho é continuar o trabalho que todos os meus antecessores realizaram e aprofundar ainda mais essa relação. Nos dois meses em que estive aqui, mantive encontros frequentes com o diretor-geral paraguaio, realizamos importantes reuniões e aprovamos debates significativos para a vida da Itaipu, do Brasil e do Paraguai. Tudo isso foi possível devido ao consenso resultante de muito diálogo e respeito.
Quais são os principais desafios que você vê à frente para a Itaipu Binacional e qual é o seu plano para enfrentá-los?
Destacaria dois desafios principais. O primeiro é a transição energética. Quando a Itaipu foi construída, há 50 anos, a usina representava uma revolução. Hoje, com as energias solar e eólica e a retomada da energia atômica, o peso das hidrelétricas no sistema tende a diminuir, mas sua importância aumenta, pois elas funcionam como um backup para essas fontes de energia intermitentes, como a eólica e a solar. Temos, no Parque Tecnológico Itaipu quase duas décadas de pesquisa em hidrogênio verde, que é um debate mundial. Portanto, o primeiro grande desafio é entender e auxiliar na transição energética.
O segundo desafio é distribuir a riqueza gerada pela Itaipu na região em que está inserida. Para garantir ou mesmo ampliar a vida útil da Itaipu, é necessário combater o assoreamento. Com esse objetivo, e de forma alinhada às políticas do governo Lula, é fundamental desenvolver políticas socioambientais na região, com muita educação ambiental e ações como promoção da reciclagem, entre outras. Temos que garantir a longevidade da usina para que os benefícios que ela traz ao Brasil e Paraguai possam ser estendidos por mais tempo.
Enio José Verri.
Como está o andamento dessas obras como a Perimetral, Ponte da Integração e duplicação da Rodovia das Cataratas? Quais são as perspectivas da Itaipu quanto a elas? Vão ser concluídas?
Todas as obras financiadas pela Itaipu que já foram conveniadas e estão sendo executadas serão concluídas. Não há problema nenhum quanto a isso; seria uma irracionalidade paralisá-las. Temos obras previstas até 2025. O andamento é acompanhado pela Itaipu, que financia esses empreendimentos. A execução está a cargo de outras entidades, que podem informar em qual estágio cada uma delas se encontra. Sobre novos empreendimentos, não devemos iniciar obras gigantescas antes de darmos conta dos compromissos ambientais e sociais.
Essa é a característica desse governo, preocupado com emprego, distribuição de renda, desenvolvimento local e proteção ambiental. Isso não quer dizer que a gente deixará de investir em obras, mas elas precisarão ter uma alta relevância social como, por exemplo, uma ponte que possa ajudar no escoamento da produção agrícola. Ou como o caso do prédio da Unila, que vamos concluir. Todos os investimentos serão analisados com bastante atenção porque nosso compromisso, alinhado às políticas do governo federal, são com as ações ambientais, sociais e de infraestrutura, nessa ordem de prioridade.
Em relação ao Anexo C do Tratado de Itaipu, que completou 50 anos em 26 de fevereiro. A negociação para mudanças já foi iniciada? Ela tem uma programação? Como está em relação a isso?
As negociações sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu devem começar após a posse do presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, em agosto. E serão conduzidas pelas Altas Partes Contratantes, ou seja, pelos governos do Brasil e do Paraguai, por meio de seus representantes diplomáticos. Os nossos chanceleres, tanto o paraguaio quanto o brasileiro, vão discutir a Itaipu olhando para o Brasil e o Paraguai do futuro. Cabe a nós, na empresa, prestar suporte técnico aos negociadores, fornecendo informações e cenários possíveis.
Fora do trabalho, o que o senhor mais gosta de fazer? Quais são seus hobbies?
Gosto muito de ler e assistir filmes. Sempre fui um grande entusiasta dessas atividades desde jovem. Hoje, você chamaria isso de ser um “geek”. Fui atleta há muito tempo, mas nunca fui bom em esportes coletivos, por isso me dediquei para os esportes individuais. Mantenho o ritmo de leitura de dois livros por mês e escolho os temas que mais me atraem. Gostaria de ter mais tempo para isso, mas, no momento, minha carga de trabalho é bastante extensa.
O senhor já conhecia a Tríplice Fronteira? Está se adaptando ao dia a dia da cidade?
Sim, conhecia as Cataratas do Iguaçu e a própria Itaipu. Estou me adaptando ao estilo de vida local e tenho apreciado a variedade de opções de lazer que a cidade e a região oferecem, como a boa gastronomia. Ainda não tive tempo de visitar Puerto Iguazú, na Argentina. É algo que pretendo fazer. As pessoas falam muito sobre tomar um bom vinho e comer uma boa carne lá, e de fazer compras no Paraguai. Recentemente fiz uma rápida visita ao país-sócio da Itaipu, mas espero poder explorar mais Ciudad del Leste, as demais cidades vizinhas, e desfrutar da região trinacional.