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No dia 07 de outubro recebemos a idealizadora do projeto “Tá no Ciclo”, Valentina Rocha, que nos apresentou essa ação incrível que visa combater a pobreza menstrual em Foz.

Valentina Rocha é professora da rede municipal de ensino, protagonista juvenil, acadêmica do curso de Geografia pela UNILA, coordenadora do Coletivo de Empoderamento Feminino Baque Mulher Foz, idealizadora do projeto Tá no Ciclo, produtora cultural, gestora de projetos, artista, ativista e militante pelos direitos das juventudes e das mulheres.

Valentina Rocha visitando a redação da 100fronteiras
Valentina visitando a redação

Coletivo Baque Mulher

Antes de apresentarmos o projeto “Tá no Ciclo”, é importante dizer que esta iniciativa surge com o Coletivo Baque Mulher, que começou há alguns anos, por meio de um Movimento Nacional de Empoderamento Feminino, movimento que surgiu em Recife, capital de Pernambuco, e vem promovendo o empoderamento feminino através da música.

Logo do Coletivo Baque Mulher
Logo do Coletivo Baque Mulher

O Movimento Nacional de Empoderamento Feminino Baque Mulher surgiu no nordeste, e desde então, se apresenta como um coletivo de Maracatu composto somente por mulheres. A “mestra” do movimento, Joana Cavalcante, ressalta a importância de a mulher ocupar todos os espaços, desde a bateria a outros instrumentos.

Assim, o Coletivo foi se expandindo e chegou em 40 cidades no Brasil, como Foz do Iguaçu, além de outros países pelo mundo. Em Foz, o coletivo se reúne desde 2017, e já esteve à frente de diversas iniciativas e participou de diversas apresentações.

Pandemia da COVID-19 e a relação com a iniciativa 

No início da pandemia, o coletivo de Foz conheceu a CUFA (Central Única das Favelas), que possui um projeto denominado “Mães da Favela”, e assim sentiram que foi o momento para agir de forma mais aprofundada com as doações.

Mães da Favela
Mães da Favela

Dessa forma, começaram a receber doações de alimentos, advindos da comunidade iguaçuense e também da sede em Curitiba da CUFA-PR. Então, começaram a ir nas comunidades e conversar com os moradores. Nisso, perceberam que as chefes de família, todas mulheres, eram quem mais sentiam na pele as dificuldades da pandemia, principalmente em relação aos produtos de higiene, como papel higiênico, absorventes, entre outros. 

Então, começaram a entender que a pobreza menstrual realmente existia em Foz do Iguaçu. Logo após, surgiu uma pesquisa com dados da pobreza na cidade, e os números eram alarmantes. 

“A gente pensou, se tem tanta gente na pobreza em Foz, também tem muita mulher sofrendo com a pobreza menstrual.” diz Valentina.

Assim, em março de 2021, elas começaram a idealizar o projeto “Tá no Ciclo”, que contou, e ainda conta, com 4 etapas. Valentina ressalta ainda que, apesar de as etapas terem sido divididas, elas foram muito orgânicas e fluidas. 

Projeto Tá no Ciclo
Projeto Tá no Ciclo

1º Etapa:

A 1° etapa tinha como principal objetivo quebrar o tabu da menstruação, e apresentar a problemática para a cidade. Desse modo, o coletivo Baque Mulher foi às rádios, a TV e diversas formas da mídia local, inclusive criando conteúdo para as redes sociais.

2° Etapa:

A 2° etapa foi voltada a encarar a questão da pobreza menstrual como uma questão de saúde pública, e falar para Foz do Iguaçu que não tratar o período da menstruação de maneira correta, acarreta em vários problemas, como evasão escolar e demais problemas de saúde. Para isso, elas foram até a Câmara Municipal apresentar o projeto e solicitar apoio.

Então, tiveram uma conversa com a bancada de mulheres da Câmara e propuseram um Projeto de Lei que propusesse a entrega de absorventes em escolas, centros de referência e atenção às mulheres e a população,nos postos de saúde. Esse projeto foi construído e segue em tramitação na Câmara dos Vereadores. 

Projeto Tá no Ciclo na Câmara Municipal
Projeto Tá no Ciclo na Câmara Municipal

3º Etapa:

Na 3º etapa, a rede de farmácias Farmaútil fez uma doação muito significativa, e, assim, o projeto conseguiu estabelecer as comunidades que seriam atendidas, para que conseguissem dar início às doações. 

Então, foram em busca de parceiros para auxiliar na arrecadação de absorventes. Essa etapa está acontecendo atualmente e o coletivo já conseguiu diversas doações de kits de higiene (sabonete, papel higiênico, pasta de dente, etc) e absorventes. Contabilizando mais de 2000 pacotes de absorventes e kits de higiene entregues nas diversas comunidades. 

Durante a distribuição, elas não somente entregam os produtos, mas também buscam falar sobre o tema.

4° Etapa:

A 4º etapa vai se basear em dar continuidade ao debate do tema nas comunidades iguaçuenses, trazendo médicos especialistas no assunto para falar sobre os riscos da falta de cuidado para com a saúde menstrual, bem como fazer conversas a respeito de violência de gênero e demais temas relacionados à saúde e bem-estar feminino como um todo.

Nessa etapa, elas pretendem também seguir com os pontos de coleta incluindo a Câmara Municipal, e que ainda o projeto de lei já esteja aprovado.

Além de todas essas ações, uma das pretensões é também realizar eventos para a comunidade no geral, com atividades que atraiam o público iguaçuense para o debate. 

A experiência da entrega e do contato

Valentina nos conta que toda entrega é muito significativa para as mulheres, e, também para o coletivo, que aprende com a situação. 

Em todas as entregas realizadas, muitos relatos chegam aos ouvidos delas, como:

“Entre comprar um absorvente pra mim e uma bolacha pro meu filho, eu prefiro comprar a bolacha.” 

E, em um âmbito geral, a maioria se sente muito bem cuidada, pois é a 1º vez que recebem esse apoio. Afinal, geralmente, as festas realizadas na comunidade são voltadas para as crianças e outros públicos, e nunca voltadas para as mulheres.

Por isso, a ideia é continuar trabalhando com as temáticas de gênero, até mesmo para conscientizar as famílias sobre o período, uma vez que a faixa etária mais atingida são adolescentes, que em sua maioria são dependentes financeiramente dos pais, e que, por não terem essa consciência, acabam considerando absorventes algo “supérfluo”. 

Como é a inclusão das pessoas que menstruam no projeto?

O coletivo começou, aos poucos, a ver que não eram somente mulheres que sofriam com o problema, mas também homens trans. 

Ao perguntar se elas já haviam realizado alguma entrega para o caso específico, Valentina conta que as entregas são realizadas diretamente em conjunto com as líderes comunitárias para que possam fazer a distribuição da melhor forma. Assim, não é possível ter esse controle específico, mas a distribuição está disponível para quem precisar.

Ela também conta que o maior contato com o público trans, atualmente, é a Bruna Ravena, da ONG Casa de Malhú, e que junto a instituição já dialogavam sobre e que caso surja a necessidade dos produtos, o Coletivo está aberto para doações.

Galeria de fotos das doações de absorventes.

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