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O fenômeno climático conhecido como El Niño foi oficialmente declarado na quinta-feira, 8 de junho de 2023, pela Noaa (Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), uma agência que monitora condições atmosféricas e oceânicas. Segundo a publicação, as condições que caracterizam o fenômeno estão presentes e devem se fortalecer nos próximos meses.
SpaceToday
Entendendo o El Niño
O El Niño Southern Oscillation, ou ENSO, é uma flutuação periódica natural que ocorre a cada 2 a 7 anos na temperatura da superfície do mar e na pressão do ar da atmosfera no Oceano Pacífico Equatorial. Este fenômeno tem uma grande influência nos padrões de temperatura e precipitação ao redor do mundo.
O ENSO tem três fases: El Niño, La Niña e uma fase neutra. A fase El Niño é caracterizada por temperaturas da superfície do mar acima da média histórica no Pacífico Equatorial, enquanto a fase La Niña se refere à situação em que o Pacífico Equatorial está mais frio que a média.
“O El Niño tem que ver com mudar os padrões pelos quais se rege o clima. Portanto, quando falamos sobre um evento moderado ou forte, estamos no fundo a dizer que El Niño tem uma influência maior na criação dos padrões atmosféricos que podem permanecer durante um período de tempo”.
Tom di Liberto, especialista
Com o desenvolvimento do El Niño, geralmente vemos um aumento nas temperaturas globais no ano seguinte. Em meio ao atual aquecimento global, espera-se que 2024 seja o ano mais quente da história. Nos últimos três anos, este aumento na temperatura média foi parcialmente contido pela presença da fase La Niña, que tem uma influência de resfriamento.
De acordo com a mais recente atualização da Organização Meteorológica Mundial (OMM), a temperatura média global em 2022 foi de cerca de 1,15°C acima da média do período 1850-1900, considerado pré-industrial. No entanto, a previsão é que cada ano de 2023 a 2027 tenha uma temperatura média de 1,1°C a 1,8°C acima dessa base de referência.
Ainda segundo a OMM, há uma probabilidade de 66% de que a temperatura global média anual ultrapasse 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais em pelo menos um ano entre 2023 e 2027. Essa previsão é preocupante, pois ultrapassar esse limite significa dificultar o cumprimento das metas estabelecidas no Acordo de Paris.
Além disso, prevê-se que o aquecimento global afete de maneira desigual diferentes regiões do mundo. No Ártico, por exemplo, o aquecimento previsto é mais de três vezes maior do que a média global.
Climate Prediction Center
Como o El Niño afeta o Brasil?
Como o maior país da América Latina, o Brasil possui uma diversidade geográfica rica e diversificada que, por sua vez, pode ser significativamente impactada por essas mudanças climáticas.
Quando o El Niño surge, seu impacto no Brasil pode ser sentido de diversas maneiras. Em regiões do Sudeste e do Sul, o fenômeno costuma provocar um aumento acentuado nas chuvas. Essa precipitação extra pode causar enchentes e deslizamentos de terra, com consequências desastrosas para comunidades vulneráveis, destruindo casas e infraestruturas locais.
Por outro lado, nas regiões Norte e Nordeste, onde a vida já é fortemente moldada pela escassez de água, o El Niño tende a causar períodos de seca. A vida na região semiárida do Nordeste é um equilíbrio frágil entre a pecuária extensiva e uma agricultura de subsistência já de baixo rendimento, atividades que se tornam ainda mais difíceis em períodos de seca.
Quando o El Niño traz secas mais severas, a agricultura de subsistência, que sustenta muitas famílias, é diretamente impactada. Isso pode causar problemas econômicos graves para aqueles que dependem da agricultura para sua sobrevivência. Em termos mais amplos, essas secas podem agravar os problemas de pobreza, principalmente para as comunidades rurais.
O impacto do El Niño pode levar a uma migração do campo para as cidades, à medida que as famílias buscam melhores oportunidades econômicas. Isso pode colocar uma pressão adicional sobre os centros urbanos, muitas vezes já sobrecarregados e despreparados para lidar com um êxodo rural.
Mas, antes que esse cenário pareça demasiado desolador, é importante lembrar que a compreensão e a preparação para esses eventos climáticos podem fazer uma grande diferença. Agora, mais do que nunca, é essencial que nos engajemos na questão das mudanças climáticas e busquemos soluções sustentáveis para mitigar seus impactos.
Efeitos do El Niño no Brasil, Climatempo.
Consequências a longo prazo
O aumento contínuo das temperaturas globais, impulsionado pelas emissões humanas de gases de efeito estufa e exacerbado pelo El Niño, deve nos levar a um território desconhecido. Estamos nos afastando do clima que conhecemos, o que pode ser um vislumbre do nosso futuro.
Os impactos do aquecimento global já são evidentes em várias partes do mundo. Estamos presenciando uma maior frequência de eventos extremos, como inundações e secas, e eventos de início lento, como a elevação do nível do mar e a acidificação dos oceanos.
É crucial reconhecer que as mudanças climáticas são uma questão transversal com consequências em todas as áreas. Para garantir um futuro habitável, é necessário agir com urgência e seriedade na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Não podemos ignorar os impactos que fenômenos como o El Niño têm em nosso clima e devemos usar essas informações para informar nossa resposta às mudanças climáticas.