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A discussão do etarismo não é recente, mas ganhou bastante visibilidade após um caso recente em Bauru. Patrícia Linares, aluna de biomedicida, no auge de seus 45 anos, foi alvo de deboche por conta de sua idade. A história tem um final feliz após a repercussão com Patrícia ganhando uma bolsa para estudar na Inglaterra.
“Você que está pensando e não tem coragem, é seu sonho e você não quer por causa da idade, vamos fazer o seguinte? Idade não nos define. Idade é um número, então vamos colocar nosso sonho para correr que a vida não espera”, afirma Patrícia em vídeo publicado no TikTok.
Patrícia não será nem a primeira nem a última pessoa a sofrer esse tipo de preconceito. Participar dessa discussão é nosso dever com a sociedade que desejamos ter no futuro. Afinal, estamos ficando mais velhos a cada dia, não é mesmo?
Entenda o etarismo
Segundo o Relatório Mundial a respeito do Idadismo — Etarismo ou Ageismo —, feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o etarismo compreende “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que elas têm.
O etarismo pode se manifestar de diversas maneiras. Algumas vezes, é evidente e explícito, como a exclusão de pessoas mais velhas do mercado de trabalho, a recusa de contratar pessoas mais jovens para determinados trabalhos ou a proibição de certas atividades ou oportunidades com base na idade.
Outras vezes, o etarismo é mais sutil e pode ser percebido em atitudes, comportamentos ou suposições que refletem estereótipos negativos sobre determinada faixa etária. Por exemplo, a crença de que os idosos são menos capazes, menos saudáveis ou menos valiosos do que as pessoas mais jovens pode resultar em uma discriminação subconsciente ou implícita.
Dados sobre a intolerância
Foto: Ron Lach
A longa expectativa de vida, somada com baixas taxas de mortalidade precoce e a redução da natalidade, com que o Brasil é um dos países que está envelhecendo mais rápido no mundo.
O Ministério da Saúde projeta que em 2023 o Brasil já terá mais idosos do que jovens com idade entre zero e 14 anos.
O IBGE divulgou em junho de 2022 que a parcela de pessoas com 60 anos ou mais passaram a representar 14% da população total em 2021.
Pesquisas também revelam o impacto da idade no mercado de trabalho, segundo IDados e Infojobs:
880.00 pessoas com mais de 50 anos perderam o emprego no Brasil nos últimos 10 anos.
57% dos prfissionais já sofreram algum tipo de preconceito devido à idade
66% dos trabalhadores da geração X (nascidos entre 1965 e 1981) acham que os mais jovens duvidam de sua capacidade profissional
Etarismo e Mulheres
Foto: Svets Production
Se você é mulher, você sente na pele a pressão dos padrões de beleza e juventude. Para nós, eles são muito mais rigorosos e não se adequar a eles pode causar diversos problemas na nossa autoestima.
Enquanto homens com características maduras são considerados “charmosos” e “experientes”, mulheres que deixam os cabelos grisalhos ouvem comentários maldosos até das pessoas mais próximas.
“Eu decidi assumir meus cabelos brancos porque é normal. Quem não morre, envelhece. É uma questão de dignidade, envelhecer com naturalidade, é uma libertação desse padrão de beleza que não é natural. A gente tem rugas, engorda, os cabelos ficam brancos, o colágeno vai embora, a pele resseca, a libido vai para estratosfera. Numa reunião de família, minha cunhada até se ofereceu para comprar tinta de cabelo para mim. Gente, não é falta de dinheiro, é gosto, é respeito por mim mesma e minha história.”
Socorro Passos, aposentada e leitora da revista
O etarismo atinge todas as mulheres, sem restrição. Aquelas que estão na indústria do entretenimento, como apresentadoras, cantoras, atrizes, sofrem ainda mais com as pressões estéticas e de juventude.
Até mesmo a última ganhadora do Oscar de melhor atriz, Michelle Yeoh revelou em entrevistas que já recebeu diversas indiretas sobre aposentadoria antes de seus mais recentes trabalhos.
Casos famosos
Xuxa
Foto: Brunno Rangel/Divulgação
Uma das mulheres mais icônicas do Brasil já enfrentou diversas situações de etarismo ao longo de sua carreira, especialmente por causa de sua idade e imagem pública.
Nos últimos anos, a eterna “Rainha dos Baixinhos” tem sido alvo de críticas maldosas em relação à sua aparência e idade. Muitas pessoas a acusam de tentar se manter jovem e de não aceitar o envelhecimento naturalmente.
A artista já falou abertamente sobre como o etarismo afetou sua carreira e autoestima. Ela admitiu que teve dificuldades para se adaptar a um mercado que valoriza a juventude e a aparência, e que já se sentiu pressionada a mudar sua imagem para se manter relevante.
“Fui muito criticada na primeira vez que tirei foto na praia, sem maquiagem. Disseram que eu tinha dinheiro, que deveria me cuidar, colocar Botox. Quase dei uma pirada, mas resolvi não entrar nisso.”
Xuxa tem sido uma voz ativa na luta contra o etarismo. Ela defende a ideia de que as pessoas mais velhas têm muito a contribuir para a sociedade, e que é importante valorizar a experiência e o conhecimento que vêm com a idade. Além disso, ela tem sido um exemplo de que é possível continuar trabalhando e se reinventando, independentemente da idade.
Madonna
Foto: Frazer Harrison/Getty Images
Nem a Rainha do Pop conseguiu escapas. Aos 64 anos, Madonna começou a ser vítima dos estereótipos do idadismo desde que começou apresentar sinais do envelhecimento.
A cantora já foi criticada por continuar se apresentando em trajes ousados ou por tentar se manter relevante no cenário musical, e essas críticas muitas vezes foram baseadas em sua idade. “Ridícula”, “Não sabe envelhecer”, “Se veste como uma adolescente” são alguns dos comentários frequentemente ouvidos.
No entanto, Madonna também é conhecida por enfrentar o preconceito de frente e resistir às expectativas da sociedade em relação às mulheres mais velhas. Ela frequentemente defende a ideia de que a idade não deve limitar as pessoas, e que todos devem ter a liberdade de continuar a explorar suas paixões e seguir seus sonhos, independentemente da idade.
Após receber comentários negativos sobre sua aparência no Grammy Awards de 2023, Madonna não ficou calada.
“Mais uma vez, eu sou pega pelo etarismo e da misoginia que permeia o mundo em que vivemos. Um mundo que se recusa a celebrar mulheres acima dos 45 anos e sente a necessidade de puni-las se elas continuam sendo de vontade forte, trabalhadoras e aventureiras.”, escreveu em publicação no Instagram.