Submersíveis e submarinos são frequentemente confundidos, mas possuem diferenças importantes. Nos últimos dias, um caso chamou a atenção do mundo inteiro: a implosão de um submersível. Vamos desvendar essas diferenças e entender como ocorre uma implosão no fundo do mar.

Apenas 5% do oceano foi explorado e mapeado até hoje. É impressionante pensar que sabemos mais sobre a Lua do que sobre as vastas extensões que cobrem dois terços do nosso planeta. No entanto, há uma explicação para essa disparidade: a exploração do oceano, especialmente das suas profundezas, é uma tarefa extremamente complexa.

Com uma profundidade média de quase 3.700 metros, o equivalente à profundidade em que o Titanic se encontra, estamos falando de uma pressão de cerca de 370 atmosferas. Diante dessa realidade, é evidente que a tecnologia utilizada para desvendar esses ambientes precisa ser não apenas à prova d’água, mas também capaz de suportar pressões extremas.

O desafio de explorar o oceano profundo requer equipamentos altamente especializados e resistentes à pressão. Afinal, a imensa pressão exercida pelas águas nas profundezas é capaz de esmagar facilmente objetos que não estejam preparados para suportá-la. Submersíveis e submarinos são exemplos de tecnologias desenvolvidas para enfrentar essas condições adversas.

Mas você já se perguntou qual a diferença entre um submersível e um submarino? Ambos exploram as profundezas do oceano, mas suas características e propósitos são distintos. Vamos começar explicando o que cada um deles é e, em seguida, mergulhar no caso da implosão que tem intrigado muitas pessoas.

Submersíveis: explorando as profundezas

Um submersível é uma embarcação projetada para mergulhar abaixo da superfície do oceano. Eles são frequentemente utilizados para exploração científica, resgate de naufrágios, estudos oceanográficos e até mesmo para turismo subaquático. Os submersíveis são geralmente menores em tamanho, comportando apenas algumas pessoas.

Diferentemente dos submarinos, os submersíveis não possuem capacidade de navegar grandes distâncias ou permanecer submersos por longos períodos de tempo. Eles são mais limitados em suas capacidades, mas são extremamente úteis para realizar pesquisas e explorar áreas específicas do oceano.

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Submarinos: tecnologia de defesa

Os submarinos, por sua vez, são embarcações militares. Sua principal função é a guerra submarina e a defesa de uma nação. Eles são maiores, mais complexos e têm maior autonomia submersa. Os submarinos são capazes de percorrer grandes distâncias submersos e permanecer embaixo d’água por semanas ou até meses.

Equipados com tecnologia avançada, os submarinos têm propulsores silenciosos, sistemas de comunicação criptografados e são capazes de lançar mísseis e torpedos. Além de sua aplicação militar, os submarinos também podem ser usados para pesquisas científicas, exploração de recursos subaquáticos e operações de resgate em situações de emergência.

A Implosão do submersível

Agora, vamos abordar o caso que tem intrigado muitas pessoas: a implosão de um submersível. Primeiramente, é importante entender o que é uma implosão. Quando um objeto é submetido a uma pressão extremamente alta no fundo do mar, a pressão externa é maior do que a pressão interna, resultando em um colapso violento.

No caso específico do submersível que implodiu, acredita-se que a pressão do ambiente marinho foi maior do que a capacidade do submersível de suportá-la, resultando em sua implosão trágica.

As implosões no fundo do mar são extremamente perigosas e podem ser fatais para os ocupantes da embarcação. A pressão nas profundezas do oceano é imensa, e qualquer falha na estrutura pode levar a um colapso repentino. Por isso, é fundamental que os submersíveis sejam projetados e construídos levando em consideração as condições extremas do ambiente subaquático.

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O que pode causar uma implosão em submersíveis?

O oceanógrafo David Zee, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), avalia que as próprias batidas por socorro no interior da embarcação podem ter provocado — ou acelerado — a implosão.

Segundo Zee, a implosão do submersível já era a teoria mais provável após os destroços terem sido encontrados, mas ela não necessariamente aconteceu no momento em que a comunicação foi perdida. O submarino pode ter passado dias no fundo do mar, impactado por uma pressão cada vez maior conforme a profundidade foi aumentando, o que tornou sua estrutura vulnerável até às batidas de socorro dos tripulantes no interior.

Qualquer rachadura [na estrutura] aumenta os riscos de uma implosão naquela profundidade. Os tripulantes poderiam estar lá no fundo tentando se comunicar batendo [no casco], o que explicaria as equipes terem escutado algo durante as buscas, mas num momento de desespero isso também pode ter danificado o casco e implodido tudo. Quando acontece isso, é que nem pisar em um ovo, ele se estilhaça para todos os lados.

David zee

Rebeca Bacani, doutora em Física pela Universidade de São Paulo (USP), explica de forma simples como sentimos a pressão atmosférica quando estamos submersos. A cada dez metros que descemos abaixo do nível do mar, sentimos uma pressão adicional, como se tivéssemos uma atmosfera em cima de nós.

Isso significa que, em um quilômetro de profundidade, a pressão é como se tivéssemos 100 atmosferas sobre nossas cabeças. Essa pressão é tão intensa que pode comprimir as coisas ao nosso redor.

No caso do submersível que implodiu, a doutora Bacani destaca que o especialista de segurança da empresa aparentemente foi demitido em 2018.

Eu li que o especialista de segurança da empresa foi demitido em 2018 porque ele falou que o vidro do submersível aguentava só 1.000 metros [nota: eram 1.300 metros]. Se os destroços do Titanic estão a 3.800 m abaixo, é preciso descer 400 atmosferas e o vidro do seu submarino aguenta só 1.000. Então os materiais têm que suportar essa pressão. É por isso que ocorre a implosão abaixo do oceano

Rebeca Bacani

O professor Stefan B. Williams, especialista em robótica da Universidade de Sydney, explica que qualquer expedição submarina ao Titanic enfrenta um grande desafio devido às pequenas margens de erro. Mesmo que o casco do Titanic tenha sido construído para suportar altas pressões no mar, qualquer defeito na forma ou construção pode comprometer sua integridade, levando ao risco de implosão.

Antes de um mergulho desse tipo, são necessários preparativos cuidadosos. É preciso verificar a estrutura do submersível, garantir que todas as partes mecânicas e elétricas estejam em perfeito funcionamento, verificar se as baterias estão carregadas, se não há curtos-circuitos ou falhas elétricas, se os propulsores estão funcionando corretamente e se os equipamentos de comunicação, como o rádio, estão operacionais. Além disso, o submersível deve ser capaz de liberar os pesos que carrega quando chega a hora de retornar à superfície.

O Titan, submersível envolvido no caso, tinha um sistema de monitoramento em tempo real para detectar tensões no casco. No entanto, ainda não está claro se houve falhas nesse sistema.

Segundo o professor Williams, se algo deu errado no submersível, há uma grande chance de que tenha dado muito errado. Se o casco não suportou a pressão e falhou de forma catastrófica, é como se uma pequena bomba explodisse. Nesse caso, há o risco de todos os dispositivos de segurança serem destruídos no processo.