Foz do Iguaçu enfrenta um relevante momento neste período de pandemia, visto a configuração da cidade ser bastante pautada no turismo como indutor de desenvolvimento da economia da tríplice fronteira, do consumo de compra e nos ambientes de hospedagem, ensino, eventos, negócios e setores de serviços locais.
Tendo em vista que o Turismo fará um retorno mais gradativo para garantir a segurança, a qualidade e o atendimento adequado aos milhões de turísticas que visitam nossa cidade, sobretudo, aquecendo a economia local como um todo, vislumbro um cenário em que o retorno dos grandes centros com o controle da pandemia devem ditar a retomada da intensidade nas cidades do interior.
De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central de abril/2020 “entre os setores tidos como mais afetados, encontram-se os de transporte aéreo e rodoviário de passageiros, comércio varejista, turismo, indústrias de transformação, serviços e eletricidade e gás”.
É importante considerar que no período pós-pandemia se tem a perspectiva de uma crise econômica (pandeconomia), cujos impactos estimados pelo Boletim Focus, gira em torno de -6,48% a.a. no PIB (2020), sendo que esses dados estão sendo revistos constantemente devido ao cenário de aprendizado sobre os efeitos deste evento pandêmico.
Uma queda tão acentuada no PIB (2020) representa, em dados reais para a população, impactos com perda de empregos, renda, vendas e depressão de negócios, características de uma economia em recessão.
As políticas de proteção social dos governos, possivelmente, serão requisitadas por períodos mais longos que, os neste momento propostos, pois é necessário se assistir aos mais vulneráveis, ao mesmo tempo que efetivar a chegada do crédito aos pequenos e médios empresários, assim, como para as grandes empresas, trazendo à tona a relevância da participação do Governo nesta proteção.
Incentivos a setores estratégicos, a exemplo, do turístico também precisarão ser contemplados para manter a vitalidade mínima do trade turístico no Brasil, a fim de se reaquecer no momento em que de fato a pandemia esteja controlada nos grandes centros e no interior, visto que atualmente a mesma se expande neste sentido.
No entanto, no caso de Foz do Iguaçu, atrelado ao controle pandêmico está a latência na abertura com segurança sanitária das Pontes da Amizade e da Fraternidade, o que reflete no menor aquecimento da economia local, bem como, à exposição sanitária da região.
Devido à grande interdependência entre as economias das cidades irmãs (Foz-Ciudad del Este) e também em diferente medida com Puerto Iguazu, nossa cidade é classificada como uma Cidade Gêmea que, de acordo com o pesquisador Neves em estudo realizada sobre os anos de 2016 e 2017 pelo IDESF, indicam que “são mais dependentes de recursos provenientes de outros níveis de governo do que as grandes cidades brasileiras. A autonomia financeira municipal, isto é, a capacidade de gerir a cidade com seus próprios recursos, varia muito de cidade para cidade (…)”.
Neste tocante, Foz do Iguaçu, apresenta fatores endógenos peculiares com a presença de grandes órgãos que impactam a economia local e, consequentemente, contribuem com essa autonomia financeira, quais sejam esses: a Hidroelétrica Itaipu Binacional, a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (FPTI), a Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA), o Instituto Federal Tecnológico do Paraná (IFPR), a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), a Receita Federal, as Polícias Federais e as Cooperativas do agronegócio, pois desempenham suas atividades de maneira mais independentes dos recursos turísticos e de consumo fronteiriço.
Diante deste cenário, é possível que Foz do Iguaçu viva um período pré-ampliação do turismo, no qual a economia local precise ser incentivada, os negócios da região do Oeste do Paraná precisam encontrar ambiente de estímulo, pois a economia é cíclica em seus momentos de expansão e retração.
Dados pesquisados por Pintor et. alli. em (2016) apontam para o município de Foz do Iguaçu, os setores que se destacam com maiores índices de quociente locacional são das seguintes atividades: “serviços de utilidade pública, alojamento e comunicação, ensino, médicos odontológicos e veterinários, transporte e comunicação, administração técnico e profissional e comércio varejista”.
É importante manter os negócios com segurança sanitária adequada, a fim de que se atendendo os critérios propostos, a economia ao retornar possa para garantir os postos de empregos, que conduzem ao crédito que circulará na economia e, ainda, reduzindo os impactos nos custos sociais do desemprego.
Frente a essa pandemia, o melhor instrumento de prevenção ao contágio e possível sobrecarga nos sistemas de saúde do município, ainda é o distanciamento social.
Vale destacar, que as medidas sanitárias tomadas pelo Comitê de Crise para o Enfrentamento do Covid-19, instalado em Foz do Iguaçu, vem conseguindo até o momento o achatamento da curva de contágio da covid-19, de modo que, os efeitos positivos para o retorno local estão sendo mais eficientes, porém exige a conscientização de toda a população para se proteger e ao próximo.
As pesquisas sobre distanciamento social apontam que os locais que cumpriram adequadamente com essa etapa obtiveram uma redução nos impactos negativos na economia em outras crises pandêmicas.
Logicamente, que essa contextualização é apenas um cenário breve, pois temos outros setores como o agronegócio que vêm se apresentando como grande motor do país pela produção e o apoio do alto câmbio do dólar.
A retomada da economia local mais do nunca está atrelada aos cenários nacionais (pandêmico), políticos, tecnológicos e econômicos, pois para o “novo normal” as sociedades sairão com algumas mudanças significativas em todos os sentidos, por exemplo, o setor de serviços online devem continuar crescendo, algumas atividades que antes ocupavam imóveis devem ter parte migradas para o teletrabalho, a compreensão dos cuidados com higiene, possivelmente, mudaram de patamar, dentre outros, o que gera impactos em setores específicos.
Algumas expectativas são importantes de serem observadas para compreendermos o cenário econômico nacional, pois impactam diretamente a vida de todos os brasileiros, empresas, entidades civis e órgãos governamentais e são apresentadas no Boletim Focus (jun./2020), que é um relatório do Banco Central.
Para (2021) a expectativa é de crescimento do PIB em 3,50% a.a., a mesma previsão há duas semanas. E as expectativas para (2022 e 2023), é de uma expansão de 2,50% a.a. do PIB.
Quanto ao dólar a expectativa é que o câmbio feche em (2020) próximo aos R$ 5,40. Contudo, em (2021), a expectativa é que gire próximo à casa dos R$ 5,08, em (2022) e (2023) R$ 4,90.
A expectativa de inflação deve manter a trajetória de redução em (2020) (1,53%a.a). No entanto, para (2021), espera-se que fique próxima aos 3,10% a.a.. A previsão para os anos seguintes (2022 e 2023) espera-se que fique próxima aos 3,50% a.a..
Por fim, a conhecida taxa Selic que é o principal instrumento do Comitê de Política Monetária (COPOM) para gerir a taxa básica de juros na economia, atualmente, está estabelecida em 3% a.a.. Contudo, o mercado precifica uma Selic em queda até dezembro/2020, enquanto, que para (2021) espera-se 3,5% a.a. e (2020) 5,13% a.a.
É importante compreender que a redução da taxa Selic estimula o crédito mais barato e, portanto, o consumo, enquanto, que o efeito contrário ocorre quando se aumenta a taxa, ou seja, desaquece o consumo e aumenta o custo do crédito no mercado.
Esses dados todos apontam para um 2020 em pandeconomia, ainda com reflexos de desaquecimento, decorrente da pandemia sanitária do Covid-19, e uma expectativa de aquecimento da economia para os anos seguintes.
Todos esses dados ainda precisam levar em consideração o crescimento da economia internacional, sobretudo, a dos EUA, da China e da Comunidade Europeia, que podem impactar para melhor ou pior esses dados e, desta forma, nossa economia de Foz do Iguaçu.

Marcelo Silva é analista econômico. Tem doutorando em Sociedade, Fronteira e Cultura pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. É mestre em Administração pela UFPR. Servidor do Departamento de Planejamento Estratégico da UNILA.
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